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Coimbra. Esta é da poucas homenagens que se podem encontrar a este cantor de intervenção, que tanto deu ao seu país. |
JOSÈ AFONSO, o "ZECA", como era mais conhecido Faleceu a
23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às três horas da
madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Faz agora vinte
cinco anos.
Lembro-me de o ouvir cantar ao vivo em festas de estudantes, e de movimentos de jovens para os quais sempre, arranjava algum tempo disponível. Não raras vezes me emocionei a ouvi-lo, nesses tempos.
Foi um cantor de intervenção política de qualidade ímpar, no seu país e a além fronteiras.
Merecia ter o reconhecimento dos poderes políticos, e não só, deste país prestando-lhe uma homenagem que marcasse bem a sua importância como cantor e músico.
Para os que como eu, que sempre convivemos com a sua música, ao longo dos anos, dificilmente o esqueceremos.
Eis alguns dados retirados da Wikipédia. que nos dá a dimensão deste figura ímpar da música portuguesa.
Começando por cantar em festas populares e em colectividades, lança,
em 1960, o seu quarto disco, Balada do Outono. Em 1962 segue
atentamente a crise académica de Lisboa, convive, em Faro, com Luiza
Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa. Segue-se uma nova
digressão em Angola, com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra, no
mesmo ano em que vê editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal. Nesse
disco José Afonso rompe com o acompanhamento das guitarras de Coimbra,
fazendo-se acompanhar, nas canções Minha Mãe e Balada Aleixo, pelas
violas de José Niza e Durval Moreirinhas.
Em 1963 termina a
licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, com uma tese sobre
Jean-Paul Sartre, intitulada Implicações substancialistas na filosofia
sartriana.
No mesmo ano são editados os primeiros temas de
carácter vincadamente político, Os Vampiros e Menino do Bairro Negro - o
primeiro contra a opressão do capitalismo, o segundo, inspirado na
miséria do Bairro do Barredo, no Porto - integravam o disco Baladas de
Coimbra, que viria a ser proibido pela Censura. Os Vampiros, juntamente
com Trova do Vento que Passa (um poema de Manuel Alegre, musicado e
cantado por Adriano Correia de Oliveira) viriam a tornar-se símbolos de
resistência anti-Salazarista da época.
Realiza digressões pela
Suíça, Alemanha e Suécia, integrado num grupo de fados e guitarras, na
companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho,
Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda Amoedo.
Em
Maio de 1964 José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade
Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção Grândola, Vila
Morena. A música viria a ser a senha do Movimento das Forças Armadas no
golpe de 25 de Abril de 1974, permanecendo como uma das músicas mais
significativas do período revolucionário. Ainda naquele ano são lançados
os álbuns Cantares de José Afonso e Baladas e Canções.
Ainda em
1964, José Afonso estabelece-se em Lourenço Marques, com Zélia,
reencontrando os filhos do anterior casamento. Entre 1965 e 1967 é
professor no Liceu Pêro de Anaia, na cidade da Beira, e em Lourenço
Marques. Colabora com um grupo de teatro local, musicando uma peça de
Bertolt Brecht, A Excepção e a Regra. Manifesta-se contra o
colonialismo, o que lhe causa problemas com a PIDE, a polícia política
do Estado Novo. Em Moçambique nasce a sua filha Joana, em 1965.
Residiu,
entre 1964 e 1967, em Moçambique, acompanhado pelos dos filhos e pela
sua companheira, Zélia, tendo ensinado na Beira, e em Lourenço Marques.
Nesta altura, começa a sua carreira política, em defesa dos ideais de
independência, o que lhe valeu a atenção dos agentes do governo
colonial.
Intervenção política até à Revolução de 25 de Abril
Quando
regressa a Portugal, em 1967, é colocado como professor em Setúbal; no
entanto, fica a leccionar pouco tempo, pois acaba por ser expulso do
ensino oficial, depois de um período de doença. Para sobreviver, começa a
dar explicações.A partir desse ano, torna-se definitivamente um símbolo
da resistência democrática. Mantém contactos com a Liga Unitária de
Acção Revolucionária e o Partido Comunista Português — ainda que se
mantenha independente de partidos — e é preso pela PIDE. Continua a
cantar e participa no I Encontro da Chanson Portugaise de Combat, em
Paris, em 1969. Grava também Cantares do Andarilho, recebendo o prémio
da Casa da Imprensa pelo Melhor Disco do Ano, e o prémio da Melhor
Interpretação. Para que o seu nome não seja censurado, Zeca Afonso passa
a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa.
Em 1971
edita Cantigas do Maio, no qual surge Grândola, Vila Morena. Zeca
participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele
e lança o LP Eu vou ser como a toupeira. Em 1973 canta no III Congresso
da Oposição Democrática e grava o álbum Venham mais Cinco. Ao mesmo
tempo, começa a dedicar-se ao canto, e apoia várias instituições
populares, enquanto que continua a sua carreira política na Liga de
Unidade e Acção Revolucionária.
Entre abril e maio de 1973 esteve detido no Forte-prisão de Caxias pela PIDE/DGS.
Período após a Revolução dos Cravos
Após
a Revolução de 25 de Abril de 1974, acentua a sua defesa da liberdade,
tendo realizado várias sessões de apoio a diversos movimentos, em
Portugal e no estrangeiro; retoma, igualmente, a sua função de
professor.Continuou a cantar, gravando o LP Coro dos Tribunais, ao mesmo
tempo que se envolve em numerosas sessões do Canto Livre Perseguido,
bem como nas campanhas de alfabetização do MFA. A sua intervenção
política não pára, tornando-se um admirador do período do PREC. Em 1976
declara o seu apoio à campanha presidencial de Otelo Saraiva de
Carvalho.
Os seus últimos espectáculos terão lugar nos coliseus
de Lisboa e do Porto, em 1983, numa fase avançada da sua doença. No
final desse mesmo ano é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor
recusa a distinção.
Em 1985, é editado o seu último álbum de
originais, Galinhas do Mato, no qual, devido estado da doença, Zeca não
consegue interpretar todas as músicas previstas. O álbum acaba por ser
completado por José Mário Branco, Sérgio Godinho, Helena Vieira, Fausto e
Luís Represas. Em 1986 apoia a candidatura de Maria de Lourdes
Pintasilgo a Presidente da República.
Prémios e homenagens
Foi laureado pela Casa da Imprensa, como o melhor compositor e intérprete de música ligeira, nos anos de 1969, 1970 e 1971.
Foi, igualmente, homenageado pela Câmara Municipal de Lagos, que colocou o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.
Em
2007, foi homenageado na IX Grande Noite do Fado Académico, na Casa da
Música (Porto), numa organização do Grupo de Fados do ISEP e da
Associação de Estudantes do ISEP (Instituto Superior de Engenharia do
Porto).