quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A terra que eu sinto




Sentado na barriga da mãe terra, ouvindo o seu latejar, o varrer dos ventos, das chuvas, do sol escaldante, da neblina pousando sobre ela. Sinto nela a enxada do lavrador, ou o arado, entrando forte, rasgando, oxigenando e alimentando com seu estrume, dando-lhe alimento, regando e atenuando a sua agrura. Não falo da mãe Terra, planeta, falo daquela parte da terra que fica marcando as bordas dos sapatos, ou tirando o brilho com a sua poeira, terra que engrandece os pés descalços dos mais desfavorecidos, aquela terra que alimenta, e faz propostas de descanso ao olhar e prazer dos homens.

Aquela terra que palpita nas plantas e seus frutos crescendo, alimentados pelo seu ventre fértil. Terra onde se produz o alimento de gerações de milhões de homens e animais, desde que a perversidade dos homens não impeça. Aquela terra onde homens e animais convivem e se alimentam, com suas ervas, árvores e plantios sadios, ainda sem o arreganho maldoso do homem que a conspurca, com os seus bombardeamentos, os seu dejectos abjectos, seus ácidos indústrias, sua exploração desenfreada sem o devido repouso.

Fico sentindo teu cheiro, o teu palpitar, ausente de todo o ruído que não o teu. De vez em quando deixo-te passar por entre os dedos apreciando a tua textura, pensando nos milhares de seres que te acompanham na tua labuta existencial. Umas vezes mais escura, outras mais clara, umas vezes mais macia outras mais árida, mas toda ela terra de todos os seres vivos.

Esta é a terra que sinto, sentado no seu ventre, olhando o infinito que ela alcança, na esperança de que o homem não a destrua com a sua ambição.

dc

Sem comentários:

Enviar um comentário