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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Um dia, se não nos perdermos...


Só, como ele estará certamente, desde que eu vim para este outro lado do mundo. As noites e as manhãs se confundem, somente perante a chávena de café, reflicto os dias.

Penso na sua ausência que se vai adentrando em mim, e como esta sociedade que me rodeia me vai deixando cada vês mais desnuda de sentimentos, nesta confusão da sobrevivência diária, na qual a manutenção do emprego, exige de nós, não só trabalho, mas humilhação como seres humanos. Se a minha profissão é privilegiada e me permite ter trabalho, também é dura, porque além de cuidar dos doentes e suas doenças, me deparo todos os dias com a miséria humana, nas suas mais derivadas expressões. E falta ele, sempre, com o seu aconchego, o seu abraço que me tocava no fim do dia, e o beijo caloroso com que me recebia na porta do hospital.

Aqui desterrada, nesta terra de língua diferente, onde aprendo a comunicar, A seriedade das palavras me impedem a riqueza expressiva com que me entendia na pátria.


Nesta vida dura que tenho de suportar, tentando sobreviver. Tudo está difícil e trabalho a desoras para poder aguentar o meu lugar, nesta máquina trituradora da sociedade chamada de liberal. Uso o trabalho como terapia excessiva, para me atordoar e, por momentos, me esquecer que existes, em algum lugar ainda esperando por mim. Um dia, se não nos perdermos um do outro, espero relatar-te enfrente a uma chávena de café, toda esta dor de ter emigrado, para podermos ter uma vida em comum, e do quanto, em momentos como estes que agora descrevo no meu diário, a tua presença me seria mais do que necessária.

Espero sempre, que o pessimismo que me ensombra, nesta hora da madrugada, desapareça e que tudo o que sentimos não se perca na voracidade dos dias intensos, para podermos dizer que valeu a pena e nos voltemos a amar, com a mesma, ou mais, intensidade do que hoje...


Londres, Setembro XX



dc