Os olhos brilham, um meio sorriso
aflora-lhe os lábios cor de rosa, mostrando levemente os dentes certos e
bonitos. O cabelo loiro, quase branco, encaracolado e comprido, cai-lhe sobre
os ombros. Tem um casaco de malha cor rosa, muito suave, que a veste por cima da
camiseta, aconchegando o corpo.
O almoço depois do banho de mar, num pequeno restaurante, acompanhado de vinho
branco e sobremesa, desenrolado com agradável conversa, deixou-os leves e bem-dispostos. Pagam e saem.
Vão passear num pequeno jardim próximo, quando chegam, poucos passos andados, ela
coloca a écharpe, de tecido leve, sobre o chão e deitam-se nela, sobre a relva.
Olham o céu azul sobre as suas, cabeças bem próximas sentindo o vibrar dos
corpos, com risadas e disparates que vão dizendo, vivem o momento. Sente-se a
intimidade e a liberdade de estar, a alegria diz-lhes que o tempo não existe. O
mundo pára em redor, só eles, são, o restante é cenário a compor a imagem.
Podia ter sido para sempre, mas ficou por aí, tal é o medo que se gera quando
nos parece bom de mais. Naquele jeito bem português de ter medo de viver a
felicidade quando esta nos toca, logo se foram inventando, ou desconfiando
razões, matando desde logo, a probabilidade, sequer, de poder dar certo.
Encontram-se logo prumos, paredes, materiais de isolamento do quotidiano, do
passado, de uma outra gesta e usam travões às quatro rodas levantando os
obstáculos, que nem sombra fazem no chão.
Saíram do jardim, os óculos escuros fixaram-se na cara, o negro visível fechou
as portas ao futuro. O sapo nem tempo teve de virar príncipe.
dc