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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

O sapo nem tempo teve de virar príncipe.

 


Os olhos brilham, um meio sorriso aflora-lhe os lábios cor de rosa, mostrando levemente os dentes certos e bonitos. O cabelo loiro, quase branco, encaracolado e comprido, cai-lhe sobre os ombros. Tem um casaco de malha cor rosa, muito suave, que a veste por cima da camiseta, aconchegando o corpo.
O almoço depois do banho de mar, num pequeno restaurante, acompanhado de vinho branco e sobremesa, desenrolado com agradável conversa, deixou-os leves e bem-dispostos. Pagam e saem.
Vão passear num pequeno jardim próximo, quando chegam, poucos passos andados, ela coloca a écharpe, de tecido leve, sobre o chão e deitam-se nela, sobre a relva. Olham o céu azul sobre as suas, cabeças bem próximas sentindo o vibrar dos corpos, com risadas e disparates que vão dizendo, vivem o momento. Sente-se a intimidade e a liberdade de estar, a alegria diz-lhes que o tempo não existe. O mundo pára em redor, só eles, são, o restante é cenário a compor a imagem.
Podia ter sido para sempre, mas ficou por aí, tal é o medo que se gera quando nos parece bom de mais. Naquele jeito bem português de ter medo de viver a felicidade quando esta nos toca, logo se foram inventando, ou desconfiando razões, matando desde logo, a probabilidade, sequer, de poder dar certo. Encontram-se logo prumos, paredes, materiais de isolamento do quotidiano, do passado, de uma outra gesta e usam travões às quatro rodas levantando os obstáculos, que nem sombra fazem no chão.
Saíram do jardim, os óculos escuros fixaram-se na cara, o negro visível fechou as portas ao futuro. O sapo nem tempo teve de virar príncipe.


dc