Solidão palavra tão curta, de tremendo peso e dimensão.
Existem várias formas de sentir a solidão. Solidão do ser humano para com os outros. Solidão acompanhado, solidão consigo próprio, solidão entre quatro paredes, solidão no meio das multidões. São estas, algumas, das várias formas solidão. De forma inconsciente essa "besta", a solidão, se apodera lentamente, se aproxima sem que sinta, de pezinhos de lã, como quem não quer a coisa. Solidão imensa, de choro e lágrimas percebida muitas vezes tardiamente, ou irremediavelmente sentida, no decorrer dos dias.
Há também a solidão de um país marginal, porque pobre, porque outrora rico e agora esgotado pelos que o exploraram.
Há a solidão do nosso próprio país que nos marginaliza e os deixa morrer na enxerga.
Há a solidão dos pais idosos, de quem os filhos se esqueceram, num qualquer lar para a Terceira Idade, ou que os deixam fenecer lentamente de abandono e tristeza.
Há a solidão dos que perderam os pais, os filhos, em actos de guerra ou de guerrilha, que não entendem a não ser o próprio silêncio, e que por vezes se transformam em detonadores de ruídos, quando de bombas na cinta se fazem explodir, fechando o circulo de morte para onde foram atirados.
A solidão já não tem idade, ela atinge as crianças do Darfour, do Iraque, do Afeganistão, a da Nigéria, e no mundo suburbano das crianças das cidades, onde algumas, atiradas para a rua, se deixam morrer de inanição.
Há a solidão como opção, porque estar só não implica sentir-se só, é um modo de estar. Há quem goste, de ouvir os seus silêncios, enquanto espera os ruídos da outra alma que aparece. Por vezes, a solidão alimenta o prazer da companhia que surge e os abraça, preenchendo espaços ilimitados da vida.
Às vezes, a solidão também é um gesto de amor, que mantém vivas as emoções, que nos fazem gozar o prazer único de reviver olhando o mar, ou sentindo o cheiro da flor que amou.
A solidão não devia existir para quem não a quer, ou procurou. A solidão, nesta era da comunicação, da chamada mundialização, ou globalização, não devia ser uma “companhia” para tantas pessoas.
Imensos são os cavaleiros andantes, rainhas do sonho, procurando em blogs e sites de encontro, a esperança de matar o ócio não procurado e o isolamento. Tentam desfazer essa solidão, caminhando no silêncio do seu espaço físico, ou teclando fervorosamente. É necessário acordar. Diariamente circulam de perto com outros, que como eles solitários, esperam um sorriso, um só sorriso, para quebrar o gelo e dizerem “olá eu também estou aqui”. Cerram o seu espaço, fecham a porta ao olhar que se lhes dirige, ao sorriso, às palavras de circunstância, com o medo de algo, de não se sabe o quê. Falar, sorrir, não é entregar a alma ao diabo, é comunicar. Não com um monitor de qualquer computador, mas com seres humanos, gente que sente que vive, que sonha, que, como eles, quer ter a solidão que escolheu e não a que a sociedade fomenta, ou destina.
Porque não, quando saem à rua, olharem com prazer para quem querem, e sorrindo sem medo ou censura? Porque não enfrentarem, aqueles olhos bonitos e profundos? Porque não apreciar a curva dos lábios que lhe sorriem, e lhe verem a alma? Por quê tanta reserva de serem humanos, vivos, presentes, trocando o teclado de frases desconhecidas, na maioria das vezes desligadas do cheiro da pele, da luz que brilha nos olhos e da própria realidade?
Sim, é necessário reflectir, sem medo de descobrirem, o que dentro deles existe. Se for mau, têm tempo para corrigir, se for bom, têm tempo para aplicar e VIVER.
Escolher a comunicação net, como lugar privilegiado de comunicação é procurar um maior isolamento, e aceitarem irremediavelmente essa condição. Passam horas respondendo superficialmente a tudo e nada, a mastigar frases e palavras truncadas, tantas vezes alimento de discursos sem sentido. Para quê, se o silêncio da solidão não morre?
Saiam, vão ao cinema, à biblioteca e pelo caminho, pisquem olhos, vejam pessoas, espaços, jardins, sorrisos numa feliz loucura de estarem vivos. Arregacem as mangas à vida. E por favor sejam felizes.