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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Cusquice de verão

 

Enquanto o galão e a torrada não chegavam, ele ia observando o ambiente da esplanada. As conversas eram como os tremoços, amarelas e abundantes. Os temas variavam, entre a cusquice, de quem chegava para iniciar férias e os residentes queixando-se das maleitas da viagem, do verão, do clima com as suas variantes, entre neblinas e sol tórrido, de temperaturas irregulares, do vento forte, pouco comum, para a época. A conversa numa das mesas estava agitada. Duas mulheres conversam, ou melhor, uma fala, com as mãos agitadas como se quisesse sublinhar todas as frases, a outra olha para ela e titubeia uma ou outra frase, para interromper tal eloquência. Esta última, parecia ter botox nas maçãs do rosto, e um olhar meio estrábico, que não deixava perceber, se olha para a outra mulher, ou se para o homem que nas costas dela, sentado, estava tomando o seu café. Na verdade, ela parecia estar mais atenta, ao homem que também olhava no mesmo sentido. Parecia haver uma troca de olhares entre eles. O estrábico olhar facilitava a vida. A outra mulher, que se agitava com a sua fala, estava tão entretida no seu contar, que nem se apercebia. Interrompendo todo o ruído do ambiente, um cão começou a ladrar, para que o dono, que comia uma torrada e tomava meia de leite, dividisse o pequeno-almoço com ele. O dono dividiu, para evitar perturbar o ambiente. Entretanto, os dois que se olhavam, já trocavam uns leves sorrisos disfarçados, como quem não quer a coisa. Ela rodando um pouco mais a cabeça, e o olhar mais intenso, exibindo um pouco as pernas morenas que sobressaiam da sai curta, ele comendo a torrada e sorvendo a meia de leite, lentamente passando a língua pelos lábios insinuando outros saberes e sabores. O sol começava a aparecer, no meio da bruma matinal e calor começava a surgir acompanhado de uma brisa, que se estava a tornar incomoda. A esplanada estava a tornar-se pequena para aqueles dois, um deles tinha de tomar alguma atitude, ou não. Na verdade, o homem levanta-se, e, quando eu esperava uma daquelas cantadas, ou outro avanço, para estabelecer contacto, retira-se todo emproado erecto, como se nada tivesse acontecido. Poderia eu, concluir, que me precipitara no raciocínio? Será que não passara de um pequeno flerte, de aquecimento para os dias de ócio que iriam comandar os próximos dias. Fiquei defraudado, esperava mais daqueles dois, talvez um amor tórrido de verão, ou uma aventura secreta no meio da multidão.

 

DC