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sábado, 28 de abril de 2018

Um corpo ao vento





Ele tinha ido definitivamente da sua vida, agora restava-lhe a socialização com os outros, era o único sentido ainda intacto. Nesse acto de socializar, mesmo sem encontrar rumo, disfarçava a sua mágoa, as suas incertezas, Num contínuo palrar, sem dar tempo de escuta aos outros, que sabia, por experiência, gostam de opinar, com seus palpites chamados de racionais, todos tão sabedores de coisa nenhuma, sobre a linguagem dos afectos. Afectos, que nos tornam humanos, e que, por vezes, pouco têm de racionalidade.
Encontrar o norte, sem bússola, era tarefa difícil nesse seu divagar. Falar e escrever era um desabafo sem eco, ou resposta. Fez do trabalho profissional um escape, alienando-se de direitos, ficando só com os deveres. Agarrou-se ao silêncio, tornou vazio o diálogo dos dias. Viajou sem destino, aprendendo paisagens. Prendeu-se nas palavras que os outros escreviam, apreciou imagens que outros produziam, visitou livrarias e museus, passeou nos jardins, olhou de pensamento livre tudo aquilo que a rodeava, sem ajuizar, deixando-se levar pelo vento. Tarde ou cedo, acreditava, tudo aquilo que agora fazia era um aproveitar do tempo, um acumular de saberes e vivências, quem sabe uma porta para o futuro com uma razão para sorrir.

dc