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sexta-feira, 29 de julho de 2022

"Ver" com os dedos

 

Tocou a superfície fria, lisa, acetinada, sentia-lhe as formas arredondadas, o volume dos lábios, as reentrâncias do cabelo e dos olhos. Enquanto isso, a sua voz ia relatando, o que sentia na polpa dos dedos. O mármore branco, falava dum mundo com cores. A cada peça tocada, sentia-se-lhe a vibração na voz, tal era a forma intensa com que descrevia cada pormenor e o seu significado: que rosto tão suave! Que boca tão perfeita! Oh! Que rosto tão redondinho, é um menino!? Como é possível esculpir tal beleza? Rosa, invisual desde criança, agora já adulta, naquele momento, apreciava um busto de criança. A sua descrição pormenorizada e emocionada, era o retrato fiel do que eu via, seu acompanhante, que com mais alguns alunos do curso de pintura, voluntariamente nos dispuséramos para aquela visita guiada, para invisuais, no Museu do Escultor Teixeira Lopes. Foi um sábado memorável, uma das mais enriquecedoras experiências para nós, jovens, que queríamos aprender a arte de esculpir e pintar. Percebi aí, que para ser um artista, teria de possuir uma leitura e sensibilidade para além do visível. Aprendemos, que na ponta dos dedos, havia mais sensibilidade e percepção à flor da pele, do que nós de olhos abertos, sem a arte, de saber tocar. Se para ela, um sentido não existia, todos os outros estavam bem mais latentes e enriquecidos. Quase apetecia dizer, que deveríamos aprender de olhos fechados, antes de nos atrevermos a mais.

 

dc