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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

NATUREZA MORTA...HOMEM MORTO


Ele tinha os olhos brilhantes, com um ar meio esgazeado, andrajoso no vestir. O corpo projectado para a frente, em cada passada parecia querer encontrar o equilíbrio. As mãos pareciam garras com as unhas sujas e compridas, nas costas um saco daqueles de plástico pretos que se usam para o lixo, um outro tipo caqui, sebento. Nos pés as sapatilhas deixavam os dedos respirar pelos buracos da biqueira, fruto talvez do desgaste das caminhadas, ou pelo longo tempo de duração. Tinham todo o aspecto de serem herdadas de um qualquer contentor do lixo, pois os dedos saíam um pedaço de fora dos buracos.

O seu olhar prendeu-se nos carros que paravam na frente de um edifício onde se encontrava um telão enorme com uns dizeres e umas figuras. As pessoas que saíam dos carros tinham um ar pomposo, bem vestidas, uns com roupas a rigor, outros com aspecto negligé como soi dizer-se. Dirigiam-se apressados para a entrada que os engolia a todo o momento.

A necessidade de obter algo daquela gente fê-lo aproximar-se com rapidez do local. Era uma galeria de arte, e numa das janelas laterais à porta, com dimensão idêntica, na parte de dentro via-se uma pintura em grandes dimensões. Era uma natureza morta, de um pintor muito conhecido. O Homem parou de olhar fixo observando em pormenor. O peru de papo para ar tostado, parecia deixar no ar o seu cheiro apetecível, um copo e uma garrafa, semi-cheios de vinho, frutos e sobremesas várias, enquanto olhava as mãos mexiam irrequietas, a boca abria e fechava como se mastigasse cada bocado, do que se deparava perante os seus olhos. Quanto mais olhava mais descontraído ficava, as suas mãos acariciavam a barriga. O mundo à sua volta desaparecera, nada havia ali a não ser o recheio do quadro e ele. De repente solta-se-lhe um arroto, que o deixa perplexo desviando os olhos para o lado com receio de que alguém tivesse ouvido. Quando o faz, vê passar junto de si uma garota morena, linda como o sol, esbelta, de blusa ligeiramente aberta onde se vislumbrava um peito firme e bem desenhado, na parte de baixo uma mini-saia, mostrando umas pernas altas elegantes rematadas e uns pés metidos em sapatos altos, abertos, deixavam ver uns dedos pintados de vermelho. Aquela imagem impactou-o fortemente e começou a sentir um aperto no coração, ao mesmo tempo que se sentia o corpo esvair-se, como se procurasse o chão... caiu.

Notícia: 12 de Setembro de 2012
Ontem pelas dezanove horas, junto à galeria Art Nouveau, na Rua José Pintor, um individuo do sexo masculino, com cerca de cinquenta anos, caiu inanimado. Prontamente foi socorrido e enviado ao hospital vindo a falecer. Conforme informação, dada pelo médico, nas urgências, o indivíduo com cerca de cinquenta anos de idade, morreu, de acordo com os sintomas, de congestão, razão pelo qual será autopsiado hoje mesmo, segundo o clínico, estranhamente, não possuía qualquer conteúdo no estômago. O indivíduo em causa, não possuía qualquer identificação, pelo que se pede a quem o reconhecer pela fotografia, que se dirija aos serviços de atendimento da polícia.