domingo, 4 de dezembro de 2011

EU TENHO UM NETO


Eu tenho um neto, de quem falo carinhosamente dum modo que sempre detestei. Chamo-lhe “o meu netinho”, não sei o que me dá, fico preso no brilho do seu olhar, na sua fragilidade e absorvido pelo quanto me dá.
Vivo cada momento da sua presença como único. O seu sorriso enche-me de alegria,  e cada vez que pronuncia “Vô” sinto que faço parte do seu mundo.
As nossas saídas, têm sempre um pouco de história. Entrar no carro, sentá-lo na cadeirinha e falar com ele olhando o seu sorriso de satisfação, consolam-me a alma. As canções da “Joana come a papa”,  “O Areias é um camelo” e muitas outras são pano de fundo para nossa viagem ao Centro Comercial, o “Pi” , como ele lhe chama, abreviando a palavra Shopping, que não sabe pronunciar. É o seu local de eleição, do qual sente falta, quando por alguma razão, cortando a rotina, o levo a outros espaços onde estará mais em contacto com natureza, como o Parque da Cidade. Ele tem a sua razão. De Inverno quando começamos as nossas saídas matinais, o shopping era o local mais quente confortável para estarmos os dois, em especial ele, porque não há muitos espaços agradáveis ao ar livre, com essas condições. Ali, tem os escorregas, as casas de brincar do Toys ur Us, e outros sítios onde se pode entreter.
É um prazer apreciá-lo, quando saímos do carro no estacionamento, e vê-lo todo sorridente já no meu colo, esperando que lhe dê a chave, para que possa ligar o alarme. Depois, quando junto ao inicio das escadas rolantes, me pede para o colocar no chão, para as subir sozinho como um pequeno homenzinho, sentindo o seu deslizar e gozando no final o prazer do ligeiro pulo da saída para o espaço firme.
Temos o nosso ritual de cumplicidade, frequentando sempre o mesmo lugar no madrugar do espaço comercial, ainda sem o movimento pesado das horas de agitação, onde dividimos entre nós o pequeno almoço. Ao chegarmos ao café, as meninas já o conhecem, e então ele pede-me que o pegue ao colo para que as possa ver com o seu ar observador e receber os seus sorrisos de bom dia.
A nossa meia de leite acompanhada com os nossos pãezinhos, que parcimoniosamente vou partindo em pequenos bocados e que lhe dou à boca, vão-se misturando com colheres de leite “sujo” de café, que ele vai bebendo deliciado. Sempre que pega na chávena e a esvazia sem  me deixar qualquer gota visível, o seu riso de gozo, deixa-me sem jeito. Concluído o pequeno almoço é um apressar, para ir para a zona infantil, para se divertir nos escorregas, nas casas de brincar e nos carrinhos, acompanhado por companheiros ocasionais, que como ele ali se encontram.
Nestas nossas saídas, finalizamos com a visita à FNAC , local obrigatório de passagem, para ter contacto com os livros, escaparate dos posters, CDs e brinquedos, criando-lhe assim o hábito salutar de fazer dos produtos da cultura, companheiros de percurso para o futuro. Aqui, é espectacular o modo como ele retira os CDs para que eu os ouça, e como depois os arruma cuidadosamente nas prateleiras, com rigor e sem se enganar. Tudo ele aprecia, como se de um adulto se tratasse, o seu ar de entendido deixa-me enternecido.
O meu neto deixa-me muitas vezes a meditar e a interrogar sobre a vida dos adultos. Quantas vezes penso, que amor é este tão livre, tão doce que nos faz ficar felizes. Porque razão, os outros amores da nossa vida, são tão complicados?
EU tenho um neto. Ele faz-me sorrir, sentir amor, saborear a vida.
Sinopse
Langston Whitfield (Samuel L. Jackson) é um jornalista do Washington Post, enviado à Africa do Sul para cobrir as sessões da Comissão da Verdade e Reconciliação. Ele está apreensivo em relação à viagem, tal como está céptico relativamente ao processo de reconciliação, sentindo que é apenas uma forma de os perpetradores escaparem ao castigo. Anna Malan (Juliette Binoche) é uma poetisa africana que cobre as sessões para a rádio estatal sul africana e NPR nos Estados Unidos. Anna é uma entusiasta do processo, tem um grande respeito pelas tradições africanas nativas e tem grandes esperanças relativamente ao seu país. Como membros da imprensa internacional, Anna e Langston encontram-se e estão instantaneamente em desacordo relativamente às suas perspectivas opostas das sessões. Mas, com o tempo, a experiência compartilhada de ouvir os testemunhos comoventes e dolorosos aproxima-os cada vez mais.

Esta sinopse explica o filme da forma demasiado simples. Embora tenha uma história de amor nas entrelinhas, o filme conta acima de tudo uma história de torcionários, de gente que em nome da Pátria, cometeu actos criminosos, que vão desde cortarem os pulsos, os testículos, meterem ferros na vagina das mulheres, choques eléctricos, e crianças a verem os seus pais a serem assassinados, tudo com o objectivo de descobrirem conspirações políticas e militantes contra o apartheid na sociedade da sul africana. Tudo isto, com o apoio duma minoria branca, que olhava para o lado perante tais crimes. Enfim uma história de terror baseada em dados verídicos. Uma história onde se percebe um paralelismo com os julgamentos de Nuremberga cuja maioria dos nazis, foram amnistiados, porque “estavam a cumprir ordens”.

Hoje mesmo, somos vitimas de governos que nos dizem estar a fazer o melhor pelo povo, enquanto nós observamos o poder económico a engordar os seus cofres. Provavelmente, no futuro, todos os envolvidos neste espoliar do povo, dirão que estavam a convencidos estar a fazer o melhor, ou a “cumprir ordens”



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A cor da loucura nham nham



A pele acetinada, madura, apetitosa, sedutora faz-nos encher a boca de prazeres ansiosos.
Ela é motivadora de pecados em bocas mais ousadas, que a saboreiam, primeiro, em dentadinhas leves, depois com ânsia descontrolada abusam do seu sabor.
Têm o seu tempo de dar. Não se deixam apresentar, em qualquer altura. Elas procuram a o momento ideal, em que os astros as favorecem, dando-lhes riqueza e tornando-as sábias ao paladar de ditosos amantes.
Muitos têm cometido a loucura de percorrer quilómetros para as encontrar em serranias mais distantes, e aí, onde elas são mais puras e doces.
Doce álcool para sangues arrefecidos, enrubescendo faces e vontades pela sedução da sua pele.
Quanto inspiração de poetas em bocas doces belas e abertas que apetecem beijar
São elas senhoras de requintado manjar que enobrecem momentos e fazem as delicias dos mais refinados gostos, até há quem as use dando-lhes o devido mérito dizendo:

“É a Cereja no topo do bolo”

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Um outro ACORDAR

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Ouço repetidamente a música quase sem pensar deixando fluir os sentimentos que ela desperta a cada minuto que decorre. As emoções à flor da pele deixam a angústia do amor que se pensa e sente na alma dos outros e que nele se perdeu.
É a fala de um mar tão profundo, intenso, imenso do amor sonhado e tantas vezes longe de nós.
Somos seres estranhos que abraçamos a tristeza para que nos conforte o ego agonizante e justifiquemos as fragilidades da alma. Cobardemente, pacificamente, nos deixamos enredar pelos anos que passam, pela preguiça da mente e não decidimos pelo prazer da vida.
Todos queremos a felicidade, no entanto, de forma irracional, procuramos a tortura, dos dias de insatisfação e nada realizarmos para que a felicidade que está dentro de nós exista.
Vivemos à rasca, suportamos uma sociedade à rasca, revoltamo-nos à rasca, vivemos relações a dois à rasca. Na prática somos pouco criativos e incapazes de satisfazer, mesmo que à rasca, as nossas liberdades pessoais e colectivas. Escondemos os sentimentos, com medo de ferir, escondemos as vontades com medo de ser reprimidos. Afinal em que ficamos? Queremos ou não ser humanos, felizes, livres e capazes?
É hora de acordar da manipulação dos media, das palavras enganadoras do poder económico que nos domina. Percebermos que a vida é muito mais do que economia. Acordar para a vida, sem medo dos políticos e das práticas políticas. Acordar para a humanidade e sermos humanos. Acordar para abrir a porta à felicidade, mesmo que esta não dure sempre, mas que dure mais que pequenos bocados, que alguns vís humanóides nos fazem crer serem suficientes.
Sim, viver para esse mar profundo, sem solidão, ou tristeza. O mar pôr do sol, o mar alegria dos amantes apaixonados, o mar musa de poetas, o mar em que o amor é a dimensão de todas as coisas. Sim, um mar que nos transporte para o prazer sentir os lábios deixarem partir as palavras sem medos, que dão a lugar a todas as coisas que devem ser o caminho dos humanos. Amor, amo, amo-te, fraternidade, felicidade, vida, criação, nascer, renascer, viver, viver, viver, viver o MAR E TU, EU, TODOS. 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um Olhar e Silêncio


Misterioso olhar parado na distância, quase indiferença.

A mágoa, por vezes, arrasta-nos para limites que nos levam a pensar estarmos sem alternativas, que todos sabem existir, menos os próprios.

Enredamo-nos cada vez mais na própria imagem que criamos e sustentamos.

Irritam-nos aqueles que tentam romper o celofane que nos envolve. Viciamo-nos nas manias e trejeitos adquiridos, que vamos mantendo, depois... é difícil parar. Passamos a ser por dentro a pedra de gelo que mantivéramos por fora, como uma garantia de silêncio, e ausência perante os outros. Perdemo-nos no caminho que criamos, sem encontrar o norte ou regresso às coisas simples e comuns do acto de viver

Por vezes se torna pesaroso acordar

NOSTALGIA DE OUTONO

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O sol rompe com dificuldade a ligeira neblina que se instalou no ar. No ar o cheiro do Outono, é acompanhado pelos movimentos e cantos dos pássaros que agitados procuram atentamente encontrar no chão alimentos, para si e família. “Eles ainda estão longe de sentirem a crise”, penso eu. As árvores estão despidas da maioria das suas folhas e muitas já estão podadas ficando visíveis os seus galhos como mãos abertas se virando para o céu.

Olhando atento as diversas árvores, lentamente as fui diferenciando, pela sua qualidade e pela sua estrutura visível de diferentes nódulos, que lhes confere uma anatomia própria e uma linguagem visual que as assemelha aos humanos.

São fruto de uma encontro da semente com a terra, semelhante à copula entre os humanos. Como os bebés, umas nascem debaixo de grandes desvelos que as protegem, outras sobrevivem em condições difíceis. Como todos o seres viventes precisam alimento de sol, ar, água e terra. Morrem de doenças inesperadas, ou crónicas, tendo por vezes, de ser abatidas. São vigiadas e podadas ao longo da sua existência para que tenham força e beleza no crescimento. Os nódulos evidentes na sua estrutura morfológica, são as marcas, as feridas deixadas e curadas durante a sua existência, tal como em todos nós humanos a vida nos vai formatando

Ao olhar mais uma vez, aquelas árvores e o seu conjunto, me pareceu ver uma comunidade, de seres diferentes, mas que se manifestam silenciosamente como fonte de vida, de agradecimento por existirem, cumprindo a missão de nos alimentarem com os seus frutos,  de regularem a natureza e nos iluminarem a alma com a sua presença. Assim fossem as vontades dos humanos, em interagirem no sentido da vida, da alegria, da paz e felicidade por existirem.

domingo, 27 de novembro de 2011

SONHO, OU REALIDADE?


Olhei esquadrinhando o espaço, procurando algo que não sabia o quê, parecia ter feito uma paragem no tempo, ou tinha acordado de repente de um coma, vivendo uma outra realidade, que não aquela onde estava inserido agora. 
De repente ao sair do sítio onde me encontrava, senti no ar um cheiro diferente. Recuei, fechei a porta e vi a peça de vestuário que restava pendurada atrás da porta, desde a última vês que nos tínhamos encontrado. Ela recolocou-me novamente no presente  de forma intensa. Afinal, não tinha sido uma paragem no tempo, nem acordar de um coma, nem um sonho, aquele pedaço de tecido era a prova. 
Peguei a peça e apertei-a entre os dedos sentindo o toque suave, do tecido, e relembrei a pele. Aproximei-a do meu rosto e o cheiro do seu corpo misturado com o do seu perfume atingiu-me. Tudo se desenhou aos meus olhos, agora sim, como se surgisse da névoa. Na realidade tinha acontecido romance. O que sentira estava agora bem presente. 
Sentei-me, acalmei olhando sem ver, só sentindo, esperando que a realidade se desvanecesse. Não queria que tivesse acontecido, melhor teria sido que fosse um sonho enganador, ou uma paragem no tempo. Sentia que o vazio se podia instalar e o retomar dos dias tornar-se-ia penoso.  
O optimismo foi-se sobrepondo, a casa junto ao mar ainda permanecia no esboço, e as mãos ainda se encontravam coladas no caminhar, somente um silêncio límpido, por tempo indeterminado os afastava. Porquê indeterminado, se fora só um momento de dúvida? Porque a palavra estava fora do contexto. Afinal significava “por um tempo determinado “ o silêncio seria necessário. Ufa, que alívio. 
Acordou estremunhado e sorriu ao sol. Apreciou os melros saltitando, e cantando no meio do jardim. Sentiu-se beijado pela brisa que corria levemente e pensou para si, “Gostar de ti é tão bom”. Como eco surgiu uma voz nas suas costas, “tu sabes que te adoro?”. 
Como é difícil distinguir o sonho da realidade. Talvez os dois se devessem encontrar num momento qualquer, num qualquer espaço e convergiram na realização, talvez até escrevendo "felizes para sempre".