sábado, 12 de janeiro de 2013

ATRAVESSAR O DESERTO




Olhou para trás assustado, não via o seu protector, aquele que o trouxera, como habitualmente, no seu passeio de Sábado. As lágrimas rapidamente saltaram dos olhos na agonia daquele estar só. Pouco antes, quando alertado para não se afastar negligenciara o aviso, levantara a cabeça e fora sempre em frente sem olhar a retaguarda, esquecera-se daquele seu parceiro de companhia e do amor que ele lhe devotava.

Este episódio trouxe à memória muitos outros momentos da vida, em que nós que já adultos e experientes, nos deixamos levar pela auto-suficiência pela presunção de que temos definitivamente conquistado o nosso lugar no outro ser que nos acompanha, deixando a nossa atenção perder-se por outros lugares. Aquela estória de “ter o pássaro na mão deixá-lo fugir” que tantas vezes nos acontece.
Perdemo-nos nas superficialidades, e esquecemos o importante dos pequenos nadas que criam raízes que alimentam o tronco das nossa existência. Ali, ele não era mais do que uma criança, que se perde do adulto, e este preocupa-se em encontrá-la e protegê-la. Em muitos casos, já adultos, perdemo-nos, e muitas vezes sem ter quem olhe duas vezes para o lugar onde deixamos de ser vistos.

Para atravessar o deserto, é necessário força, coragem e perseverança até encontrar o oásis onde repousará e ganhará novo alento. Duro é o caminho, mas é nele que se solidificam as estruturas mentais, físicas e emocionais, que nos enriquecem a chegada e nos deixam saborear, com um simples jarro de água, o prazer de estar vivo.

DC

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ABRAços...HUGs... Ètreintes.... Umarmungen


É um abraço num espaço sem cansaço
de amor urgente
de outro saboreado, mais paciente

Um abraço que a tua pele sente
mesmo que de braços ausente

Um abraço de palavras que respondem a teus ais
e sussurros que moram no teus cais
são abraços que não te deixam mais.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

ARRUMAR IDEIAS?



Estava ele ali entrando pela noite tentando arrumar as ideias. Trabalho difícil tendo em conta a situação em que se encontrava.

Ele nunca fora dado a entrar pela noite, gostava mais de viver o dia, ver o sol nascer, apanhar a cidade, ou campo, ainda meio adormecido, e por vezes o raiar do sol, no meio da neblina. Talvez pelo os hábitos de quem sempre trabalhou e fez do dia o lugar privilegiado da sua actividade. Nada contra quem gosta da noite dela faz sua vida.

Renegou o dia, e passou a fazer da noite o seu lugar de existir. Não porque priveligie o contacto com o mundo da noite, pelo contrário, vive a noite entre quatro paredes. A “austeridade” foi a principal razão desta troca de forma de estar. De dia, sair à rua, quase obrigatoriamente, implica gastar dinheiro, nem que seja na deslocação do território onde se está, para um outro onde se gostaria de estar. Como tal, opta-se por ver o dia através das janelas, saindo à rua para obtenção do essencial, ir ao médico, às finanças (brrrr), etc, etc.

À noite, porque não possuiu o dia, não dorme, lê, “perde-se” aproveitando a diminuição do ruído para ver filmes, ou séries de gosto duvidoso fazendo zaping televisivo, que por vezes o deixa ainda mais agitado, quando vê umas Fatinhas Bonifácicas, ou uns Marcelos Vitorinicos dizendo disparates, atrás de disparates sobre a economia e de como “salvar” o País, deixando-o angustiado e com insónias consecutivas.

Por vezes, pára no tempo, abstraindo-se de tudo, tentando escrever, amenizando a tristeza que magoa, nessa noite de quatro paredes.

Será como diz Eduardo Galeano:

“Quien está preso de la necessidad, está preso del miedo: unos no duermen por la ansiedad de tener las cosas que no tienen, y otros no duermen por el pánico de perder las cosas que tienen.”

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SÓ DE SACANAGEM



 

Tantas vezes procuramos as palavras certas que falem do nosso sentir, repliquem a nossa agitação mental, perante injustiça, perante as mentiras veladas ou declaradas de que somos vitimas. E nesse procurar nem sempre nos encontramos, e não raras vezes nos perdemos e desistimos de soltar o verbo e dizer da nossa justiça.

Num país como Portugal onde através do Governo, só a voz do “dono” (banqueiros, FMI, BCE etc.) se faz ouvir, deixando-nos as parcas migalhas dos seus esbulho, mais difícil é dizer, ter voz que explicite a revolta.

Ouvir a Ana Carolina a dizer um texto de Eliza Lucinda, senti que me fora dada uma voz, mesmo não falando de nós, Portugal, tudo se ajusta ao que aqui vivemos e sentimos.

De facto nem sempre se pode falar de amor a dois, mas pode-se sempre falar de amor por muitos e muitas que merecem de igualmente amor ternura e humanidade. O nosso povo precisa de amor real, solidário sem esmola, e receba tudo aquilo a que tem direito.



Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar?

Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, Esse apontador não é seu, minha filhinha”.

Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.

Até habeas corpus preventivo,

coisa da qual nunca tinha ouvido falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.

Pois bem, se mexeram comigo,

com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,

então agora eu vou sacanear:

mais honesta ainda vou ficar.

Só de sacanagem!

Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.

Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.

Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.

Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.

Eu repito, ouviram? IMORTAL!

Sei que não dá para mudar o começo

mas, se a gente quiser,

vai dar para mudar o final!

Quem é Eliza Lucinda: Atriz, poetisa, jornalista e cantora
http://pt.wikipedia.org/wiki/Elisa_Lucinda

UM DIA, ALGO MAIS ACONTECERÁ...

 

Na partida logo a saudade se instala.
Muitas coisas por dizer, muitas outras por fazer, e aquela sensação de frustração de algo que fica incompleto. O tempo... esse passa a correr enquanto próximos e lento quando longe.

A ausência, preenche-se de memórias muito frescas, as mais sólidas e marcantes ficam, as restantes se vão diluindo com a imaginação e criatividade, pensando a nova chegada e as novidades que trará.

Tanta coisa tem criado e inventado o Homem, e tanto se tem perdido. Tecnicamente modernizados, tecnologicamente preenchidos, no entanto, socialmente e emocionalmente tudo isso nos torna cada vez mais precários e inseguros.

Nos tempos que correm, temos de aproveitar os sorrisos, as palavras, as emoções, os pequenos nadas que fazem o todo. Momentos que não deixam espaço para projectar futuros elaborados, mas que nos fazem manter vivos e sempre esperançosos que um dia algo mais perene acontecerá.

DC

sábado, 5 de janeiro de 2013

LOUCO RISO POUCO SISO



Louco riso
pouco siso
Gargalhada fácil
Gestos absurdos
Confusos
Linguagem
Selvagem
Raciocínio lento
Confuso
Jumento
Menos um parafuso
Sem talento
Lunático
Imagem
Espelho
Vaidade
Selvagem
Copo cheio
Vida vazia
Corpo meio
A vida é azia
Despeito
No ar o defeito
Sem mar
Sem peito
Sem dialogar
Sem julgar
Na verdade
A realidade
É Ignorar

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

ACaba UM ANO ...



O ano acaba no meio de grande hipocrisia e falsidade de inúmeros  políticos e "opinion makers", que mentem há anos prometendo, criando expectativas, na prática tentando fazer-nos perder a esperança e um povo que se deixa enganar porque se perde na mesquinhez da materialidade que o rodeia e das promessas de que amanhã será melhor.

Por muito que queira, não consigo deixar de ser pessimista para com aquilo que me prometem, mas não me falta confiança de que eu mesmo e muitos dos como eu, que são povo, somos capazes de fazer para reabilitarmos a nossa dignidade e sermos Pátria.

Temos de acordar e reagir. É urgente acordar e não deixar que nos submetam aos desígnios dos poderosos.
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ÓPERA MUNDI
02/01/2013 - 15h45 | Marina Terra | Redação
Apesar da crise, 100 mais ricos do mundo ganharam US$ 241 bilhões em 2012
No topo da lista da Bloomberg está o magnata mexicano Carlos Slim, com uma fortuna avaliada em 75,2 bilhões de dólares
Com efeitos avassaladores sobre a população mundial desde sua eclosão, em setembro de 2008, a crise econômica foi bastante positiva em 2012 para os bilionários do planeta, conforme revela resumo anual da agência Bloomberg, publicado nesta quarta-feira (02/02). As 100 pessoas mais ricas do mundo ganharam 241 bilhões de dólares no ano que passou, ou, de acordo com comparação feita pelo jornal Publico.es, tudo o que a Espanha – um dos países mais atingidos pela crise – gastou com aposentadorias, desemprego, saúde e benefícios sociais em 2012. Todas as fortunas juntas somam agora 1,9 trilhões de dólares.
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