sexta-feira, 22 de julho de 2011

Parei

Foto: Diamantino Carvalho -Museu VN Foz Côa
Hoje eu parei. Não porque interrompi a caminhada, ou travei o carro.
Hoje parei de pensar nos sonhos não realizados, nos desencontros, nos problemas económicos, nos sentimentos que se têm e não queremos, dos que se querem e não temos.
Parei. Descolei da mente toda a perversidade do pensamento racional e deixei-me ir literalmente na caminhada. Não abri a boca, fiquei silenciosamente caminhado deixando vogar a mente sem travões, deixando fluir tudo o que me envolvia.
Nesse parar, por onde caminhava, fui observando tudo o que me rodeava. O brilho intenso do sol, as diferenças tonais dos verdes das árvores, os edifícios que nunca tinha visto, como se diz, “com olhos de ver”. Percebi como o ruído incomodo não existe desde que desconcentrados da racionalidade. Todos os elementos, fossem eles sonoros, ou visuais, que envolviam o meu habitual quotidiano, desfilavam perante os meus olhos, como coisas raras e totalmente novas. Até o nome das ruas, tantas vezes calcorreadas na caminhada habitual, me eram desconhecidos. As imagens que se iam deparando aos meus olhos mostravam-me quanto somos distraídos para o “entorno”, onde habitualmente existimos.
Findo o percurso, inconsciente, voltei ao local de partida, sem percepção de o ter feito. Restei calmo durante algum tempo sem deixar que o vazio criado fosse importunado, pelas antigas, mazelas do pensamento.

Voguei sem leme sentindo renascer, uma outra vontade de acreditar que muito há para viver, e, por vezes, em momentos “out” se fica mais “in” com a vida.

Parece um contra-senso escrever, revivendo aquele pedaço de tempo, mas não. Quando se faz algo sem esforço, melhor ele se retém em nós.

Espero voltar a este parar. Afinal todos precisamos de um outro olhar.

1 comentário:

  1. é tão linda essa tua pausa que dá vontade de "pausar" na beira dos pensamentos do lado de cá. :)

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