terça-feira, 22 de novembro de 2011

Mais do que uma história de um quadro- VIII

Pela madrugada dentro pintado, um nascer do sol. Em espatuladas de cor forte, viva marcante, se ia ele distraindo, evitando pensar. Era difícil, ele não fora com os outros, na sua tarefa. A greve dos pescadores, era muito importante, e era necessário mobilizar a população local, para actuar solidariamente com eles. Era necessário informar e esclarecer os motivos da sua luta. Foi decidido que deveria ser colocados panfletos debaixo das portas, e distribuir os restantes por lugares estratégicos, para que no dia seguinte quando as pessoas se dirigissem aos seus empregos os encontrassem. Assim como fazer pichagens a favor da sua luta. Como seu irmão fora escolhido para a tarefa, não convinha que ele participasse, seria arriscado, por que ambos fossem presos nessa acção, ainda para mais sendo ele militar. Tentou que se alterasse a decisão mas não era possível, o risco seria grande. Perante tal, a única forma de passar o tempo até que soubesse como tudo tinha decorrido, seria pintando. Foi-se entretendo com os preparativos, até que seus pais se deitassem. As horas de angústia duplicaram na tensão da espera, e o quadro foi-se realizando entre sustos, enquanto o coração bombeava com intensidade, e qualquer ruído exterior era sinal de alarme e motivo de preocupação. Algo poderia correr mal. A pintura, um nascer de sol em terras algarvias, observado em manhãs de instrução militar, ia surgindo em cores fortes. Era um sol madrugador, ocupando o céu ainda azul escuro, com o seu clarão avermelhado. Todo o quadro era tensão de uma espera.   Hoje passados estes anos relembra, esses momentos e como eram dedicados a uma causa maior. Tinha sido executada uma das muitas acções clandestinas, que muito contribuíram, para que a liberdade e o 25 de Abril fosse uma realidade

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