sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um Amor de Quadro. IX


A chuva caía sobre os seus corpos meios desnudos enquanto corriam alegremente. Brilham na noite com os reflexos das luzes.

Refugiam-se no espaço abastado do seu atelier. Na cama larga, despem o resto dos trapos que os cobrem. Beijam-se. Primeiro em pequenos toques leves, suaves, depois devagar a língua se insinua por entre os lábios, a respiração torna se agitada, a intensidade do seu contacto aumenta, enquanto mãos se buscam. O amor à largo tempo contido transfigura-os. Ela ansiosa pede-lhe que se faça sentir dentro dela. Um ligeiro murmúrio sai dos seus lábios e seu rosto se transforma, com o prazer de o possuir na sua totalidade. Corpos se agitam em dança incoerente, desenhando em pinceladas de sensualidade e erotismo o caminho do clímax.

Saciados, restam deitados, seus olhos brilham e um sorriso lhes ilumina a face. Os dedos dele caminham numa carícia de ternura desenhando-lhe os lábios e a mão vai-se emoldurando ao rosto. Lentamente as palavras se formam, frases melodiosas de amor se derretem nos ouvidos dela como notas de música dedilhadas num piano.


O tempo decorre denso como algodão. Lentamente ela se levanta e caminha nua, em contra-luz, na direcção da janela, o seu andar sensual deixa-o perdido na intensidade do momento que jamais esquecerá.


De repente ela roda sobre si própria expondo-se vulnerável ao seu olhar. A distância deixa-o aperceber-se da totalidade do seu corpo e instintivamente agarra no papel de desenho e no carvão começando a desenhar convulsivamente procurando fixar o momento. Não sabe o futuro, vive o presente fixando-o em linhas e esbatidos de carvão. Mesmo que parta, mesmo que faça doer, o registo fica eternamente marcado física e mentalmente sublinhado pelo cheiro do amor que permanece no espaço.


O dia surge no horizonte e o sol penetra agora o espaço, a meu lado desenha-se a forma do meu sonho, encostado na parede o quadro da minha realidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário