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sábado, 18 de maio de 2013

HISTÓRIA DE UM QUADRO IX



Pintara um quadro com uma estrelícia há já alguns dias. Muito figurativo, e muito pormenorizada, queria testar capacidades, voltando aos primórdios académicos, em que pintava com o modelo à minha frente. Não desgostei do que fizera, mas sentia-me insatisfeito, amarrara-me demasiado à preocupação de que fosse quase fotográfico. Levou pequenos toques, artificiais para que o “está tal e qual” dos observadores, não se verificasse. As vibrações foram fracas.

Na prática precisava de “borrar”, ter o prazer de sobrepor tinta sobre tinta, pincelando, mexendo nas formas, engrossando traços deformando o desenho, procurando, sugerindo, compondo o espaço e cor. Assim fiz, pintando novamente uma outra “estrelícia”, deliciando-me, sugerindo mais do que copiando, longe da perfeição, do “parecido” com a realidade, para encontrar outros efeitos mais vivos, mais de dentro de mim próprio. O resultado foi o que aqui se vê. Como uma criança “brinquei”, não às casinhas, mas às pinturinhas e diverti-me bastante.


DC

quarta-feira, 18 de abril de 2012

CAMINHAR À CHUVA

Caminhava pelas ruas, a chuva miúda caía sobre ele enquanto cantarolava coisas incoerentes. Hoje estava só, os companheiros, ficaram-se pelo aconchego do lar. Era ele, a chuva, e os seus pensamentos que corriam tão rápido como a superfície do passeio debaixo dos seus pés.
Longos meses observando, lendo, tentando memorizar, traçando formas, na alvura do papel. Linhas, tintas de várias cores, procurando um rosto, um corpo, uma alma...pensava. E a chuva caindo, criando uma espécie de neblina sobre as vivendas modernas, que enfileiravam ao longo das ruas....pensava...e porquê esta incerteza de saber, se o final é, mesmo o final? Os pensamentos se diversificavam, e o tempo passava.
A caminhada se aproximava do seu fim, uma hora tinha decorrido, sem se aperceber, e a chuva continuava, acompanhando a mente que trabalhava, sem se preocupar em esclarecer dúvidas, ou respostas, tudo surgia no meio do cantarolar. Tudo funcionava como em plena meditação, não se agarrando a qualquer pensamento, tudo deixando seguir sem paragens, como a caminhada um tempo antes começada.
Chegado a casa, tomou banho, vestiu-se calmamente e foi sentar-se no sofá, em silêncio reflectiu; Naquele espaço de tempo, em que a chuva caiu, o seu corpo se mexeu, a mente trabalhou, uma certeza lhe ficara, a caminhada, como sempre, fora muito útil para não stressar e pôr a vida a andar.

sábado, 26 de novembro de 2011

FUI. PALAVRA CURTA DE SIGNIFICADO TÃO LONGO



Fui. Diz-se na linguagem dos jovens, significando, “já cá não estou”, “já estou noutra”. Nada mais enganador, quando se fala de sentimentos. Nessas alturas o, fui, disfarça a impotência em permanecer. Não é o fim das coisas que magoam, mas o muito que se poderia ter feito e aproveitado.

Todos os dias tropeçará no toque do telefone no amanhecer dos dias. Todos os dias ficará sem o som da voz que partiu, esperando resposta ao seu mandado.

Não sei se o sol conseguirá abrir a alma com o seu calor e luz, tornando os dias menos longos. Ele espera um pássaro do sul que traga as notícias do seu amor. Do amor que percorre a planície voando sobre as flores e sobe procurando o norte de sua vida.

Indeterminado o tempo do silêncio, para que decorra na sabedoria da vida a decisão de seu querer.

Não é virtual, o espaço que domina o amor deles. É mais uma linguagem de Braille, um lugar físico de toque e abraço, de palavras sonorizadas, com expressões de tonalidades várias. É algo forte saído de dentro, que se sente no ar que se absorve, na brisa que corre.

Calmamente sentado no tempo, entre espátulas, pincéis, espaços brancos, cores, formas e no seio de palavras enroladas na ponta da língua, ele espera as notícias que chegarão sem tempo determinado, mas que dirão se algum dia, mesmo que de forma remota, ele foi, ou será amado pelo aquele alguém cujo amor é há muito esperado.


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um Amor de Quadro. IX


A chuva caía sobre os seus corpos meios desnudos enquanto corriam alegremente. Brilham na noite com os reflexos das luzes.

Refugiam-se no espaço abastado do seu atelier. Na cama larga, despem o resto dos trapos que os cobrem. Beijam-se. Primeiro em pequenos toques leves, suaves, depois devagar a língua se insinua por entre os lábios, a respiração torna se agitada, a intensidade do seu contacto aumenta, enquanto mãos se buscam. O amor à largo tempo contido transfigura-os. Ela ansiosa pede-lhe que se faça sentir dentro dela. Um ligeiro murmúrio sai dos seus lábios e seu rosto se transforma, com o prazer de o possuir na sua totalidade. Corpos se agitam em dança incoerente, desenhando em pinceladas de sensualidade e erotismo o caminho do clímax.

Saciados, restam deitados, seus olhos brilham e um sorriso lhes ilumina a face. Os dedos dele caminham numa carícia de ternura desenhando-lhe os lábios e a mão vai-se emoldurando ao rosto. Lentamente as palavras se formam, frases melodiosas de amor se derretem nos ouvidos dela como notas de música dedilhadas num piano.


O tempo decorre denso como algodão. Lentamente ela se levanta e caminha nua, em contra-luz, na direcção da janela, o seu andar sensual deixa-o perdido na intensidade do momento que jamais esquecerá.


De repente ela roda sobre si própria expondo-se vulnerável ao seu olhar. A distância deixa-o aperceber-se da totalidade do seu corpo e instintivamente agarra no papel de desenho e no carvão começando a desenhar convulsivamente procurando fixar o momento. Não sabe o futuro, vive o presente fixando-o em linhas e esbatidos de carvão. Mesmo que parta, mesmo que faça doer, o registo fica eternamente marcado física e mentalmente sublinhado pelo cheiro do amor que permanece no espaço.


O dia surge no horizonte e o sol penetra agora o espaço, a meu lado desenha-se a forma do meu sonho, encostado na parede o quadro da minha realidade.

domingo, 23 de outubro de 2011

História de um quadro VII

A luz surgiu do nada, trespassou a viela e veio desembocar na rua.
Gambiarra na noite do desassossego, em espaços perdidos do submundo.
Não existem as figuras que nele habitam, seres vazios, vivem o seu fado, fora dos olhares, nas sombras dos umbrais. Só silêncio e cor, se permitem revelar. O resto...na vossa imaginação

sábado, 8 de outubro de 2011

História de um quadro V

Caminhava eu ao longo da marginal observando atento o mar. De vez em quando olhava para o interior da marginal, onde os carros estavam estacionados. Em muitos deles se namorava,  olhando também o mar, ou trocando beijos e carícias que se sentiam sem se ver. Gostava do que via, mas sentia uma tristeza imensa por dentro, uma nostalgia e uma dor, enorme por alguém partira sem regresso. Era um dia de inverno e o sol que estiver atento, esmorecia lentamente dando origem a nuvens cinzentas, que se foram aproximando do horizonte em direcção à terra. Senti um arrepio quando a sombra se começou a generalizar pelo espaço, o que me fez olhar o céu. Este estava plúmbeo e tinha um rasgo atravessando-o. O avião, que eu ouvira no meio do marulhar das ondas, tinha deixado a sua marca na paisagem, tal como aquele momento que eu estava a viver. Daí às tintas ainda demorou seu tempo, mas na memória nunca foi esquecido aquele momento, como aquele alguém que partira, deixando-me mais só.