terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Às vezes a noite diz-nos isto



A noite ainda não evoluíra o suficiente para fechar os olhos e descansar. De repente lembrou-se de lhe escrever. dar-lhe uma palavrinha.

“Sabes gostava de fazer amor, do teu amor. gostava de navegar no mar do teu corpo sentindo a ondulação do teu desejo, de ouvir a tua voz apelando urgência...e depois olhos fechados, um sorriso aflorando o teu rosto e a voz morna soando nos meus ouvidos num murmúrio desconexo.

Vivia-te na distância como se perto estivesses, temendo perder esses momentos que marcaram o prazer de te conhecer.

Por vezes, a tua voz arrefecia meu ânimo, mas não arrefecia a beleza das imagens que possuía na minha mente, nem o entusiasmo de te querer. Sabia da inconsciência do teu feito. Pensando teres o mesmo querer que eu tinha no meu peito”.

Pensava...agora o que resta...um vazio enorme, e a percepção de que as frivolidades  se sobrepõem à doença do gostar, adorar, amar...

“Nesta era em que tudo é fabricado, em que nada é natural, em que nada é puro; em que os primeiros beijos se trocam por telemóvel, se fala por sms e os ditos «encontros românticos» acontecem no cinema, entre um balde de pipocas e um copo de coca-cola, nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; deixa-me falar-te de amor. Não quero falar deste «amor» novo, feito de «roda-bota-fora», que nasce podre e é vazio. Não te quero falar do amor para passar tempo, que se joga na Internet; nem daquele que se conhece num bar ou numa discoteca.” ...

“O amor que me ensinaste é puro, é natural, é biológico, sem corantes nem conservantes. Mas deixa-me contar-te um segredo: nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; o nosso amor, ainda encanta! “

Ana Rita da Silva Freitas Rocha, in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa'

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