domingo, 5 de fevereiro de 2012

D'REPENTE O MAR


O som da esplanada tornou-se distante. A cor azulada do mar, e o marulhar da sua ondulação batendo nas rochas cobertas pelo musgo das algas, foi mais forte. O sol marcava fortemente as sombras fazendo dos relevos da areia pequenas montanhas, destruídas pelas crianças, que entre gritos de alegria, correm esticando os fios do seu papagaio, que vai esvoaçando a cada rabanada de vento.
O pensamento torna-se mais abstracto, a noção de organização perde-se, esvazia-se. Para traz, ficavam aqueles pensamentos que lhe traziam à memoria caminhos percorridos em buscas inglórias, do tesouro outrora roubado. As indecisões quanto ao futuro, perdem-se naquele quadro vivo, que afastando-o das palavras do livro, levando-o para longe da angústia que o absorvia.
O mar, com o seu horizonte longínquo, fizera mais uma vez parar os juízos errados, devolvendo-lhe a crença perdida, em resgatar o pecúlio desse roubo, que lhe gelara a alma.
Roubaram-lhe a crença no amor romântico, guerrilheiro, livre, intenso.
Tiraram-lhe a inocência, quando mais amava a vida e acreditava na Revolução dos Cravos.

Longe ia o tempo da “outra senhora”, em que se perdiam as horas madrugada dentro sentados, numa qualquer calçada, conversando com companheiros da mesma luta, falando de um outro mundo, livre, onde o amor teria espaço em todas as suas latitudes. Falava-se de bem estar social, politico económico, cultural. Falava-se de participar nos nossos futuros, fora de guerras, de egoísmos, do poder dos mais ricos. Falava-se na necessidade de participar trabalhando enriquecendo o País e o seu futuro, trabalhando para aglutinar vontades no exercício de uma liberdade comum a todos. Falava-se de futuro, lealdade, justeza. Falava-se de flores, de paz, de fraternidade, de amor livre.

Onde andas tu Pátria, que me mataste o amor e me roubas o futuro?


Matosinhos 03MAI2011


Sem comentários:

Enviar um comentário