Há dias assim, em que ao menor descuido as lágrimas saltam-nos dos olhos. Tudo o que nos envolve, alimenta lágrimas e emoções.
Há dias, em que a brisa disfarça esse mar rasgado, que humedece o rosto e em que só o olhar a natureza, o brilho do sol, nos deixam um estertor comovido.
Há dias, em que a angústia nos nasce no peito e não sabemos como
Há dias assim, em que o simples sorriso de uma criança nos comove, nos trás outros risos, cheiros, semelhanças e infindas memórias.
Há dias, que a notícia de um medalhado olímpico, torna pungente o nacionalismo e nos comove como se ele fosse um povo inteiro.
Há olhos, em dias assim. Pedaços de alma, que não nos saem da memória, tiram-nos perspectiva, espaço de vida e fazendo-nos ruir por dentro.
Há dias assim, em que as dores, de todos os amores e desamores, rompem pelos olhos, são gelo da alma, esmagam-nos o peito, e deixam na mente interrogações sobre os seus porquês.
Há olhos de crianças, de abstracta tristeza, desproporcionados, pendurados num rosto e num corpo que não vemos, consumido pela fome. Olhos sem censura, porque não sabem a razão da crueldade dos homens.
Há os olhos dos sem-abrigo, que desenham dores, nos marcam a pele, fazendo-nos esquecer as curvas do rosto, o cheiro infecto, o corpo de farrapos e nos transportam para lá do absurdo.
Há dias assim, governos e senhores abastados, passeiam indiferentes no caviar, nos banhos de champanhe, no glamour. Santificando, ou purificando consciências, nas domingueiras missas, de um qualquer igreja de condomínio fechado; não vá o diabo tecê-las.
Sim. Há dias assim, que passamos transversais, ao que ocorre e decorre ante os nossos olhos, tentando fugir das lágrimas que nos nascem no canto do olho.
Há dias, em que a amizade não chega, mesmo que nos ouça, mesmo que seja ombro, mesmo que seja abraço. Só o silêncio é nosso refúgio.
Há dias assim, em que o poeta escreve versos de rima transparente com canetas de tinta das lágrimas.
E porque há dias assim, não devíamos tomar decisões, fazer promessas, dar conselhos, ou ralhar. É imperioso fazer cama no silêncio.
Nos dias assim, procuremos um espaço límpido, talvez verdura, talvez mar, talvez chão e libertemos esse caudal do espelho da alma. Que o seu rio corra, que encontre mares e se dilua.
Nos dias assim, façamos o rejuvenescimento da vida, encontremo-nos e depois...... tudo o que dantes fugíamos voltaremos a enfrentar de olhos límpidos e soberana coragem.
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