segunda-feira, 21 de maio de 2012

ACONTECEU...memória



O corpo arrastado pelas mãos dos algozes, e seus gritos ecoam no ar pedindo liberdade, e apelando ao seu amor que a salve. O seu rosto possui a coragem das mulheres resistentes da Praça de Maio, apelando a que se dê conta dos seus filhos desaparecidos. O sangue vai marcando o chão por onde a arrastam, até ser projectada para dentro do carro onde seus gritos são abafados. O carro afasta-se na distância deixando o silêncio no vazio que envolve a casa.

A noite traz as sombras e a dor naquela família que se desmembra, por imposição de quem domina.

Esta é a memória de um filme que vi e revi: "Aconteceu na Argentina", sobre a repressão na naquele país, em 1976. Vi fazendo constante paralelo com algumas situações vividas em Portugal, antes do 25 de Abril, e que me mostrou mais uma vez o modo como agora a alta finança actua. Tratam-nos como crianças que não sabem o que querem. Fazem guerra económica para desarmar a verdadeira democracia, que defende a maioria do povo. E dizem-nos que podemos votar, no entanto o garrote económico será aplicado se não votarmos como eles querem.

De violência em violência, o poder fascista, repressivo, que o capital impõe na sua ditadura, pelo dinheiro, roubando as liberdades fundamentais em toda a parte do mundo, constrói a ditadura “democrática”. Rasga o corpo dos inocentes sugando-lhes o sangue, e depois deixa-os a debater-se com a morte prematura que se avizinha.

Já não somos donos de nós, eles são os nossos donos, criam uma falsa liberdade, fazem temer tudo e todos, convencem-nos que as medidas de carácter económico que tomam são as melhores para todos nós, mesmo quando vemos que cada vez mais os ricos ficam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Eles utilizam sempre as mesmas receitas, em todos os países, porque não têm vergonha, não possuem humanidade, são os cães, as bestas, os vampiros, na voz do poeta. E nós os oprimidos, que vemos passar aos nossos olhos toda esta violência moral e social, ficamos impávidos olhando para o lado onde o televisor nos fala do Big Brother, as Tardes da Júlia, ou os Prós & Contras da ignominia, onde se diz falar liberdade, verdade, e encontrar soluções para o país. Fixamos sempre aquilo que dizem de nós os mais desfavorecidos, e criticamos os nossos em detrimento de quem os oprime. Acusamos o nosso vizinho, que foi almoçar fora, em tempo de crise, que o nosso colega tome todos os dias café, que a vizinha de cima ouve música e não quer saber da crise. Não nos preocupamos com os exploradores, nem com os governantes, assobiamos para o lado, até que entre pela casa dentro a desgraça.

Temos de acreditar que podemos construir um Portugal mais solidário, mais humano e com mais e melhores condições de vida, para todos, e que quem tem o poder efectivo nas mãos é o povo.

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