terça-feira, 22 de maio de 2012

PERDERA A RESPIRAÇÃO DENTRO DE SI


Via a pele aveludada desenhando o seu corpo deitado de lado, feito espiral, em cima da cama. Seu rosto, também de lado, tinha a serenidade estampada e a doçura do amor feito sem urgência. Os braços envolviam o seu corpo como que protegendo uma flor que dentro dela brotasse. Estava só, mas preenchida, deliciada tentava guardar junto do peito toda a sua presença. Mexia a boca ainda brilhante, parecia sentir o calor dos lábios dele, dos quais procurava reter o seu sabor. No ar ficava um rasto de odores que os uniam. E agora que fazer, pensava ele, olhando-a, absorvendo a sua imagem para que devidamente registada na sua mente, permanecesse infinita.

Outrora, fora na areia da praia, que olhando seus olhos se perdera dizendo-lhe as frases mais doces que da sua boca alguma vez tinham sido vertidas. Elas surgiam preenchendo o ar e se iam depositando no calor dos lábios, entrecortadas por beijos, virgulas e parágrafos de um texto poético. Naquele momento, o mar envergonhara-se de não ter a luz dos seus olhos e o areal era demasiado restrito para sentir a emoção que ela revelava. Ao beijá-la a respiração se perdera dentro de si, surgindo horas depois, quando o sol se alaranjara e o céu se avermelhara no finar do dia.

Há momentos únicos que nos governam eternamente, que não se descolam de nós, que respiram pelos nossos poros e envelhecem connosco.

Hoje na sua mente tudo voltara a surgir, como se não houvesse ontem, mas simplesmente paragem no tempo e aqueles dois momentos se tivessem colado num só, restando como memória dum passado, marcando o mapa de seu rosto.

"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos." (autor desconhecido)

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