terça-feira, 31 de julho de 2012

OS HOMENS E MULHERES DE AMANHÃ


O sol encoberto o vento gelado e um sonho desfeito na cabeça do miúdo(?). Há mais de três dias a pensar no dia de praia, que iríamos passar. Quem podia conjecturar tal, depois de no dia anterior ter estado um dia de sol e boa temperatura?

De véspera, foi uma azafama. Preparar a mochila com a toalha, fato de banho, protector, as bolachas, os indispensáveis balde regador e pá para construir castelos, outras coisas que lhe apeteçam.

Dormir foi um repente, logo bem cedo acordado sem precisar de aviso, e aí está ele preparando-se activamente, até que chegue a hora de o ir buscar. Já sabe que o céu ameaça borrasca, mas ele não desiste e diz: “ Vô leva-me na mesma à praia”.

Quando o fui buscar, entrou no carro, ouvindo os vários conselhos da avó paterna, para que tivesse cuidado, que o melhor seria não forçar o avô a ir para a praia, porque apanhavam muito frio.

Todo pimpão, sentado na sua cadeira, foi dizendo o que lhe apeteceu sempre tecendo comentários que levassem a decidir que a praia era o destino. Nem aliciá-lo com um ida ao centro comercial, o fazia mudar de ideias. Perante tal insistência lá fui eu para a praia. Não sem antes tomar o meu pequeno almoço e ele um bolo de chocolate.

A praia estava praticamente deserta estariam se muito uma dúzia de pessoas, umas escolhendo lugares perto dos rochedos, e uns outros montando tenda. A maioria com casacos vestidos ou enrolados em toalhas.

Tentei de demove-lo de sair do carro, mas foi tempo perdido. A solução foi convencê-lo irmos passeando no trilho junto ao areal para nos habituarmos à temperatura.
Por muito que lhe dissesse que estava frio nada adiantava, todo mexido ia apanhando pequenas flores amarelas, “ as mais bonitas do mundo”, casaco vestido e não desistia.

Acabamos por ir para a areia, tantas foram as soluções que ele apresentava para todas as questões que lhe colocava que desisti. A persistência dele acabou por vencer.

Para não ficar gelado, lá me mobilizei, a mim e a ele para simularmos ter uma plantação que precisava de ser regada e daí teríamos depois de ir ao mar, etc. etc., foi uma alegria até saltou. Mas...

..aqui deu-se a novidade que deixou assustado, o rapazinho a tudo dizia que sim, e ajudava sempre a fazer o que já estava feito, ou então dava ordens: - Oh vô, vai buscar água! Quando simulei as plantas usando penas de gaivota, ou quando fiz uma cerca com cascas de mexilhão, ele continuava atento ao meu trabalho e dizia – Oh vô vamos buscar mais!. O safado via os objectos no chão: “ Oh Vô olha ali, apanha!”, “ Oh Vô vai buscar mais água!.

Ao fim de algum tempo já com a “plantação” feita, pus-me a raciocinar, sobre o assunto e deduzi, de mim para mim...” Esta ganapada só sabe mandar e quer tudo feito, ao seu jeito e sem trabalho, exigem...Onde e como aprendem eles a quererem que os outros sejam seus servidores, onde aprendem a mandar?”. Os avós, por vezes para terem a sua atenção, facilitam um pouco sendo permissivos e fazem mais do que deviam, mas neste caso, não era assim ele já vinha com a “escola toda”, e eu não era muito dado a facilidades.
Pensando bem no assunto decidi mudar a atitude e fiz-lhe sentir isso. A partir daí tudo mudou, comecei eu a ditar as regras, e como tal sua excelência mudou logo o seu “aspecto” ficando silencioso, e de cara fechada, até ao momento de voltarmos para casa. Não me consumi muito com o assunto, e já dentro do carro para o provocar lhe perguntei:
– Que se passa estás mal disposto?
– Sim estou!
– E porquê? – pergunto eu
– Não sei. Com ar enfastiado
– Não sabes? Se calhar foi de irmos à praia e apanhares frio.

Riu-se com sorriso aberto e começou a ouvir “o areias é um camelo”, com um sorriso malandro. Ele percebeu de imediato que a má disposição podia ter inconvenientes futuros, ou seja não ir tão cedo à praia, como tal era melhor mudar.

De facto estes miúdos parece que nascem com “muito andamento”. Não sei se é dos infantários ou do modo como os pais os educam, na verdade têm sempre resposta na ponta da língua, e estão mais treinados a ver e a mandar fazer do que fazerem eles próprios.

Nós os avós é que estamos tramados, porque nem sempre estamos com eles e como tal não podemos ser muito severos, se não eles “piram-se”. Perante isto temos de usar toda a experiência e manha para que eles não fujam do nosso convívio e possam aprender algo diferente do que aprendem com os pais e os amigos. Todo o cuidado e pouco, sem deixar que abram muito as asas, se não, quando crescerem, ainda nos fazem como aquele outro, que deu uma sova no avó porque não lhe deu o carro que ele queria.

Quanto a nós avós cá vamos continuando a tudo fazermos para beber da sua presença nas nossas vidas, dando-lhes mimo e vivências diferentes, sem perder do horizonte que eles serão os homens e mulheres do futuro, e como tal devemos contribuir para a sua formação como tal.

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