terça-feira, 22 de janeiro de 2013

SE NÃO CONFIAMOS NOS AMIGOS....



Por natureza preocupamo-nos com os amigos e com as pessoas que amamos e como tal gostamos de saber como se encontram, de saúde, o que têm feito e como lhes corre a vida. Nos dias de hoje, essas pessoas, devido às dificuldades económicas e sociais, estão tão cansadas destas perguntas, e quando assim questionadas, intimamente vão dizendo para si próprios: " mas este gajo, o que é que quer... parece que a vida para ele é um mar de rosas... quer saber o que tenho feito? Estou desempregado caraças, não lhe chega? Eles fod...nos direitos no despedimento, eles diminuem-me ao tempo e ao valor a receber no fundo de desemprego e dizem-me para me apresentar todos os quinze dias, o que me faz perder uma parte do dia de forma inglória, para saberem o que já sabem? Até parece que os despedimentos foram feitos pelos próprios empregados. E depois, que perspectivas há de tudo isto se alterar? E os bancos que me querem ficar com a casa, o infantário por pagar, a taxa moderadora no hospital, os medicamentos restringidos?

É verdade que assim é, mas quem pergunta, mesmo sabendo disso tudo, tem sempre a esperança de confortar o outro, nem que seja para ele desabafar, ou até encontrar formas de o apoiar, nem que seja na luta que é necessário fazer, para que tudo isto pare.

Se eu faço aquelas perguntas a uma amigo, é porque quero saber se posso ajudar, é porque quero ser solidário, que quero dar-lhe esperança, ajudá-lo a encontrar soluções, dar-lhe força para que lute, para que se junto no barco de muitos outros, para defender os seus legítimos interesses. Se entrar no mesmo muro de lamentações, nem eu nem ele conseguiremos sair do buraco onde todos os dias os srs. sem lei nos querem afundar.

Acreditamos com facilidade nos falsários, que nos enganam antes das eleições com as promessas, dando-lhes maiorias que eles aproveitam para colocar ao serviço das minorias do poder. No entanto, não aceitamos, nem acreditamos no abraço, ou nas palavras amigas de quem nos quer bem, e até em alguns casos pomos em dúvida a sua disponibilidade. Somos tão cegos da nossa dor e tormenta, que magoamos mais depressa quem nos ama, do qualquer estranho que nos apareça dizendo dar-nos a lua.

Todos nós, sem excepção, temos direito a ter um pedaço da felicidade e de viver com dignidade. Temos de ser solidários, não em esmola, mas em compromisso de luta pelos mesmos objectivos colectivos que protegem o individual. Temos de acreditar que existem alternativas, e por muito que nos digam que é tudo a preto e branco, nós sabemos bem, que existem gradações de cinzentos entre um extremo e outro.

Temos de perder o medo e arriscar dando oportunidade, aos que nunca tiveram a chance de mostrar o que valem, do mesmo modo que devemos dar um voto de confiança aos amigos que connosco se preocupam. Caso contrário, só se pode dizer, "que merda de vida que nem vale a pena ser vivida."


DC________



da Entrevista
O dia-a-dia de um “gajo desempregado” mas com humor
 Mariana Correia Pinto • 17/01/2013 - 19:40

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Quando e porquê surgiu a ideia de criar a página "Finalmente Sou um Gajo Desempregado"?

Porque, depois de dois ano a fintar o desemprego, "finalmente" o Pedro conseguiu que aceitasse a sua "oportunidade"; porque necessitava de exorcizar para o mundo a felicidade que me invadia por fazer parte das estatísticas do "coiso". Mas foi desde logo ponto de honra: não iria carpir mágoas e debitar o fado do desgraçadinho. As pessoas têm os seus problemas, não necessitam de mais ninguém a choramingar os dela. Também precisava de algo libertador e que me "animasse" diariamente. Uma "companhia". Tem sido uma experiência fabulosa. O "sucesso" da página virá daí, penso eu. Sem eu perceber bem como, a página tornou-se um ponto de encontro de pessoas que trocam as suas histórias sobre o desemprego de forma engraçada, sendo eu somente o catalisador. Sinto que as pessoas precisam de desabafar mas sem ser só negativamente. Já é tudo tão mau. É óbvio que por trás de tanta boa disposição existe muita dor, mas cada um guarda a sua para si. Muitos utilizam a página como um dos poucos escapes para fugir às maravilhas do "coiso". Curiosamente muitos empregados também aderiram. Ajuda-me bastante a passar o dia e a ver as coisas de outra maneira com as experiências de cada um.

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