quarta-feira, 2 de outubro de 2013

PENSAR À CHUVA





Caminhando a horas incertas pelas ruas desertas, os olhos parados, e o corpo se agitando a cada passo, Não tem destino, A chuva cai torrencialmente e cria um cortina na sua frente, como se um papel vegetal colocado perante os olhos. Também não importa caminha de forma intuitiva, um passo a seguir a outro passo, em cadência metódica, como se mentalmente contasse, o número de vezes que o faz.


Os faróis dos carros parecem estrelas multicores deslizando e cruzando-se, como se comandadas por mãos fantasmas, Tremeluzem como a inconstância dos pensamentos que o trouxeram à rua, em pleno temporal. Perto, ouve-se o estrondo das ondas que batem fortes contra os limites da estrada, e o ruído de fundo de um mar fortemente mexido, Os passos incertos, levam-no naquela direcção, atraído pelo cheiro do mar e aquela música fascinante que ele produz, No mar vêem-se também pequenas luzes tremeluzindo que aparecem e desaparecem no meio da ondulação, Barcos que esperam a melhor altura para entrar e atracarem no Porto. Tudo se vai desenrolando por trás daquelas linhas que desenham chuva, como as dúvidas, e problemas que o perturbam.


Tremendo e temendo aproxima-se do molhe onde as ondas gigantes ameaçam, desenhando arabescos de espuma branca no ar, com reflexos da luz dos candeeiros do paredão, como se fossem raios laser. Fica naquele limbo, entre o fugir de medo e o desafiar as ondas como se as quisesse combater com toda a sua fúria, Sente como que um arrepio, no corpo todo, cada vez que uma bate mais forte e se aproxima mais de si. Tantas vezes repetirá, até que o medo e a vontade de viver seja mais forte e o faça regressar ao caminho que começara.


Será ali naquele caminhar a sós, no meio do temporal, naquele caminhar um passo atrás de outro passo, Com o mar próximo, o seu cheiro e o barulho da ondulação forte, Com chuva intensa molhando-o, como se quisesse lavar-se de tudo o que de mau sentia naquela momento, Que ele passará as próximas horas deambulando até as energias se esgotarem e uma calma letárgica lhe indique que está pronto para regressar e decidir que rumo a tomar.

Alguns vão ao psicólogo, outros bebem uns copos, outros ainda, como ele, procuram desta forma reorganizarem-se física e mentalmente, preparando-se para os desafios e desventuras que acto de viver, neste mundo em desacerto, trás consigo.

DC

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