segunda-feira, 14 de abril de 2014

OuViNDo PiAnO

 

Tenho-te para todo o sempre retida na memória, não pelos sons da música que nunca me tocaste, mas nas palavras escondidas debaixo das tuas escolhas.
Teus olhos têm o vidro escuro da timidez, são desenhados pelas notas de música da tua alma, em cada momento que teus dedos fluem na superfície lisa das teclas do teu piano, Momento único, onde expões teus sentimentos. Voas para destinos que não os meus, procurando ir mais longe nos teus saberes, sentimentos e aventuras, sentindo as diferenças do viver do teu passado, com um presente que se desenha como futuro.


Imagino-te olhando os arranha-céus, as ruas largas da cidade onde te instalas temporariamente e pensas se vale apena trocar a simplicidade que te está na pele, pela riqueza conquistada num mundo poderoso, de mãos sujas de sangue inocente. Nunca te senti, ou pressenti, como linha demarcando o horizonte, no entanto sinto-te na vivência do êxito.


Sei-me com mais noites e dias, para além de ti, As minhas mãos não têm a delicadeza de quem afaga o marfim preto e branco, elas têm a dureza das chagas obtidas na força bruta da construção dos dias. Os teus saberes foram ganhos fazendo um caminho ilustrado e iluminado por mentes ricas, e pelas letras pousadas nas superficies brancas das leituras, Enquanto isso os meus resultam da experiência feita vida, da presença da música a que não reconheço a pauta, das leituras vulgares enriquecidas com o passar dos tempos, das vozes das gentes transversais à oralidade dos tempos.

Na longínqua distância, sem o cheiro do teu corpo, sem sentir o teu respirar sobre meus lábios, sem ouvir sequer a tua voz, fico pensando no absurdo que nos afasta, e nos dois mundos diferentes com que temos de nos sujeitar, deixando acontecer como o eco que nos responde sem ter corpo.

DC