quarta-feira, 3 de setembro de 2014

então PARA QUÊ ACORDAR?




Para quê te acordar, se a voz que ouves só interrompe o fastio do sono? Sim, para quê, para dar a notícia do nevoeiro matinal e da noite mal dormida, ou a perspectiva lamurienta do dia que nasce? Já passou o tempo em que o acordar ao som das minhas falas era um hino de alegria, só por si, o sol do dia que nascia. Agora só te sai de dentro, bem do fundo, a voz empastada que arrasta os pesadelos da noite mal dormida. Não queres ouvir nenhuma voz, queres tentar manter o fio condutor da razão do sonho, que nesse preguiçar se te arrasta debaixo da língua, não te deixando sequer concentrar nas palavras que ouves. Desconfias, porque razão aquela hora alguém te pode incomodar só para te desejar um bom dia e te espevitar, se nem estás curiosa de saber, o que as falas te trariam de novo para o aconchego do dia. É verdade que em tempos pensavas seria bom receber as falas maviosas ao acordar e estarias sempre disponível, mas com o decorrer dos tempos os objectivos foram-se alterando, e as frases deixaram de se encadear. É o ranço da rotina, que perfilha a ausência, que se vai assenhorando, deixando-nos inertes.
A crise, essa malfadada crise económica, que serve para congelar tudo o que a toca, embora seja real, serve para se parar na bruma, os sentimentos e os pensamentos e revelar todas as nossas fraquezas. Descobrimos afinal que fomos perdendo os valores que perfilhamos ao longo de uma vida, e percebemos que nos foram criadas necessidades materiais, mais do que as ideais, para nos amarrarem e subjugar, à casa, ao carro, ao telemóvel, a televisão e até às estantes carregadas de objectos inúteis. Afinal as emoções, os valores foram escorregando para o desespero do pagamento das obrigações diárias, das mensalidades a satisfazer no banco, e duma vez por todas sentir que sobra mês e falta dinheiro. Então para quê te acordar se já nem te revoltas?

DC

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