segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Sem a água da alegria...



Como se já nos tivéssemos envelhecido (?), pela realidade de outros tempos bem atrás, esgotados deixamos correr as rotinas, que nos foram dominando devagar, lentamente, em pezinhos lã. Agora olhamos fazendo o caminho ao contrário e vemos como fomos calcando em cada dia que corria, tudo aquilo que deveria ser importante em cada momento, em benefício das futilidades que iam surgindo. A frontalidade, o debulhar dos pensamentos e fantasmas, entre nós foi escasseando, a materialidade das coisas sobrepôs-se ao espírito, ao prazer das emoções, na realidade deixamo-nos secundar, pela luta de egos e pela censura mútua.

Seria tanto mais belo, que não aplicássemos as palavras certas na hora certa, mas nos deixássemos levar pela a aventura do crescer. Que deixássemos a incerteza do vocabulário, e agarrássemos as emoções, mesmo que intermitentes, mas saídas de dentro como se respirássemos, como a troca de beijos, da pele na pele, das ternuras e os murmúrios entre elas, como se fossem um dicionário de ajuda para construir algo profundo e duradouro.

Sei que vais-me gozar, rir de gargalhada quando leres o que aqui está, porque te parece uma contradição, escrever desta forma dizendo que as palavras nem sempre fazem sentido. Ri sim, mas acredita, que se o faço é precisamente um desabafo de pretensão intelectual, preferia não fazê-lo e apenas sentir e conseguir expressar o que está bem mais fundo dentro de mim e tu pudesse manifestar todos os dias, do acordar ao deitar, por gestos e atitudes, o quanto és importante e saber-me correspondido.

Hoje, num Julho submerso na incerteza do verão, sei que a solidão se instala não de fora para dentro, mas de dentro para fora. Ela seca tudo, como num deserto, perdendo-se o húmus da riqueza da partilha, sem a água da alegria que trazia o brilho nos olhos, agora baços, sem resposta ao estímulo das emoções.

dc

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