sexta-feira, 6 de março de 2015

MÚSICA NO MEU MAR




Ouço a canção, ela vai entrando pelos ouvidos trazendo o seu poema, a sua música, a vibração da voz de quem canta. Fecho os olhos, devagar, muito devagar, a música vai me envolvendo, fazendo-me perder da realidade, enquanto a imaginação se vai abrindo aos sonhos, às fantasias, mas também à agitação e às tensões.

Vou viajando no mesmo barco, fazendo um cruzeiro sobre o mar das memórias, para onde o poeta e a música me levam. Por vezes, notas altas e agitadas, outras mar sereno com o sol repousando no horizonte, De quando em onde, surgem no cenário gaivotas dançando de encontra o céu, planando ou fazendo voos picados como se tivessem descoberto um cardume. Assim vai especulando o cérebro pelo caminho até ao êxtase, numa simbiose perfeita entre o meu eu e o eu da canção, que o vento vai fazendo chegar aos meus ouvidos.

Quando o silêncio rompe a canção fico como que levitando entre o mar chão e o sonho que decorre no pensamento. Algures de mim, quer-se perder, não regressar ao mundo dos vivos, ficar naquele limbo irresponsável, sem enfrentar a realidade com sua crueza, Deixar que o sonho se arraste naquela maresia de notas, de palavras quais peixes voadores do poema, e no som da voz surgida no grito das aves, que enchem o espaço do meu céu azul.

Com a mesma lentidão, com parti na aventura da escuta, retomo a respiração do ambiente que me rodeia. Abro os olhos e vejo o seu rosto emoldurado pelo seu cabelo claro, a boca carnuda semiaberta, e seu olhos verdes enormes, como que perdidos, como se tivessem descoberto uma verdade, há tanto tempo escondida.

Possivelmente ambos nos perdemos quando procurávamos encontrar o melhor caminho.

DC

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