domingo, 6 de setembro de 2015

As mãos. Porque hoje é domingo




Foi sempre assim, lembras-te? Nunca se percebia onde acabava um corpo e se iniciava outro, as mãos que se apertavam, ou soltavam, com a expressão das emoções e os cheiros somavam informação ao que fazíamos e como nos amávamos.

Era pouco o tempo de estar, mas longo o prazer naquele chegar de reencontro, como se fôssemos redescobrir cada poro da pele, cada pequena forma da morfologia do corpo, cada brilho do olhar, o sabor de cada beijo molhado ou simplesmente corpos se roçando ao de leve. No entanto eram as mãos se agitando, a melhor expressão e assinatura do momento, sondando cada espaço, como se cada toque farejasse cada pedacinho de nós. E eram elas, mais tarde, que nos amarravam um ao outro, um dentro do outro, cada um se perdendo no outro, cada vez mais fundo, mais longe, atordoados naquele retomar do tempo perdido. Nem mesmo, quando temporariamente saciados, elas se afastavam, permaneciam coladas, como se procurassem manter todo aquele momento, como prisioneiras presas por perpétuas grilhetas.

O domingo, habitualmente o espaço da partida até nova chegada, O silêncio marcava a angústia da despedida, os olhos brilhavam, mais do que nunca, e o beijo tinha o sabor da ausência que se avizinhava, a dor da distância. Por vezes, ficava-me a pensar de forma egoísta: “não deveria haver dias da semana, mas só domingos” ou então, “poderíamos ter o livre arbítrio, de alterar o que nos impede de que todos os dias sejam domingos”. É, o domingo era já no dobrar da esquina do tempo, mas parecia uma eternidade até acontecer..

Nesse fecho do dia, as mãos voltavam a se aprisionarem até ao adeus temporário, em que o aceno era o remate final.

dc

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