sexta-feira, 6 de novembro de 2015

As palavras



Sente-se carne a abrir, a dor acerada penetra numa ferida na qual o sangue não corre.

As palavras não cortam, as frases não cortam, mas o que seu significado, substantivadas, ou  adjectivadas, o modo e o momento em são ditas tem um poder de produzir dores e feridas bem profundas.

Há momentos em que as palavras têm de ser fortes, suficientemente poderosas, e algumas vezes sim, talvez duras e capazes de magoar, porque só assim, perante a dor, acordamos. São as palavras ditas para abalar consciências, acordar cérebros, desestupidificar gentes, transportá-las para a realidade das coisas, para que não passem ao lado, quando são parte decisão perante as outras violências, mais físicas, mais sociais, mais morais, mais afinal de valores humanistas.

Felizmente, no comum, as palavras usadas são sempre mais funcionais e, sorte nossa, há muitas mais razões para usar as palavras com conteúdos mais doces, mais melodiosos, mais profundos na expressão das emoções, como amor, alegria, paixão, ternura, paz, que bem aplicadas nos momentos certos, ajustadas a cada um, ajudam a enlevar e elevar a mente e o corpo, que nos ensinam, que cicatrizam dores, que alimentam amores, que nos encantam.
 
Quero mais o sabor das palavras que não ofendem, ou quem as diz não ofende, ou que o conteúdo nelas expresso não magoa, não fere. Gosto quando as palavras se enrolam na boca, pronunciadas como se fossem flores a decorar pensamentos. Palavras com a leveza da brisa, o calor da alma, e que acariciam as nossas mentes reforçando o nosso saber e o prazer de as ler e viver. 
dc

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