Gavetas do tempo
Os traços de seu rosto se vão definhando, como os dedos perdendo memórias do
toque dos seus lábios, do passeio pelo seu corpo que como um cego a procuravam
nas noites em que consigo permanecia.
A perda de alguém, que não morre é sempre
mais lenta, a qualquer momento somos confrontando com realidade da sua
existência, alimentando a ideia de que nada é definitivo, no entanto as
mudanças, e o correr do tempo, mesmo com desgosto próprio, nos vai tornando
difícil manter os principais traços, daquilo que outrora foi. A ausência
instala o vazio, se vão esboroando as referências, como se fosse um retrato em tons sépia, que vai perdendo pormenor e ficando destruído pelo correr dos
anos, como todas aquelas que enchem as gavetas do tempo, na tentativa de manter
vivas as recordações.
dc
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