quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Na orla do mar..



Decidiu caminhar. Precisava de o ouvir, de estar a sós consigo própria, Nem sempre, estar rodeada de atenções das pessoas que nos gostam, é o melhor. Há momentos que é necessário ficarmos longe do comum dos dias. Enquanto o escutava, e por monossílabos ia respondendo, as ruas foi percorrendo e de forma inconsciente se foi dirigindo para o mar, ali bem perto. A noite com o seu silêncio era a sua companhia física, do outro lado a voz que lhe ia chegando, deixando-a mais reconfortada. O mar se desenhava no areal pelos reflexos das luzes da cidade. Sentou-se perto da orla, descalçou as sandálias e de forma lânguida meteu os pés na areia sentindo o seu afago. A voz longínqua continuava. tornando-a mais consciente da realidade que a fazia temer, soava como uma caricia os ouvidos alertando-lhe o corpo, o que naquele momento não queria. Aquela noite tinha outro destino, tantas coisas pensadas, tantas vontades escondidas trouxera ela para confrontar naquele seu momento a sós. Ele preenchia parte de um vazio, ele, era um ele que há muito tempo lhe fazia falta. Servia para atenuar aquela outra angústia fraterna que de longe clamava e apelava à sua presença, à sua companhia. Sentia-se dividida num mundo, que lhe exigia tempo, trabalho e que pouco espaço lhe deixava para ser somente Ela. Se continuasse nestes seus pensamentos, de certeza que o pranto a dominaria. Uma voz surgindo do nada interrompeu-lhe o momento, afastando-a do que pensava...foi pretexto para desligar de forma abrupta, com palavras mal balbuciadas. Aquela voz trouxera-a ao presente. Rapidamente tomou consciência do seu gesto e procurou amenizar o que fizera, talvez um pouco tardiamente, retomando a conversa, que já não era voz, nem estava desperta. Já era tarde, as palavras se cruzaram sem precisão, mais insonsas, tinha-se perdido o fio à meada, já não fazia grande sentido.
Ficou só, com seu sumo de laranja, que pedira no bar próximo da praia. E procurava encontrar a razão obscura que a fazia temer falar com ele em público, mesmo que ninguém o visse, para ela todos descobririam pelo brilho dos seus olhos, que aquele alguém era diferente de outros alguéns com quem falava e conhecia.
Estava difícil viver sem poder usufruir de liberdade plena, para se aventurar e partir, mesmo que não em definitivo, mas para sentir as emoções de uma alma livre dona de seu espaço e seu tempo. Não queria preocupar-se com melindres alheios, juízos arrevesados, preconceitos que afinal minavam a sua alegria, o seu gostar e formatavam de algum modo o seu mundo.
Era necessário dar o grito do Ipiranga, encher o peito de ar, abraçar ainda mais aquele mar que tanto adorava e partir à conquista de seu próprio destino. Não adianta fugir ao que a mente pensa e o coração decide. Teria de voltar àquele lugar, num outro dia e alinhavar pensamentos projectos e decisões, a vida é tão lesta no seu correr...


dc

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