domingo, 20 de novembro de 2016

DESINTERESSE




Ficou-se pela promessa, deixou a esperança caminhar, adentrando o peito, alimentando a ânsia do encontro. Tudo permaneceu hipótese, com o sangue correndo pelas veias, as ideias a fluírem e a tristeza a instalar-se com o passar do tempo.
Os dias foram correndo, sem a percepção que se aproximava o acto final. Quanto mais se conheciam mais temiam o percurso e o que viria a seguir, foram perdendo a espontaneidade, e a possibilidade de fracasso se instalou.
Temiam perder o seu espaço, a materialidade, a capacidade de decidir do seu tempo e da sua liberdade. A autonomia que pareciam possuir era uma armadilha, na realidade estavam tomados pela vontade dos outros, pelas regras, que não as deles, que punham limites, moralidade, determinavam comportamentos suprimindo o seu próprio querer. As desculpas se foram multiplicando, as frases faziam hipérbole para não se dizer o que à boca surgia. Cada um se individualizou, ainda mais, deixando-se enrolar na teia que aumentava e ia travando os seus passos. Foram-se esquivando de assumir a tomada de consciência, de que já eram eles próprios criadores das suas circunstâncias. Estagnaram e lentamente se deixaram morrer dentro do seu casulo, sem se darem á possibilidade de o romance acontecer. Não sobreviveram a si próprios.

dc



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