domingo, 3 de setembro de 2017

Na praia a sós.




Embora procure as praias menos frequentadas, os sítios mais ermos e límpidos do areal, não há como fugir, há pessoas que se colam, parecem temer estar sós. Chegam e logo se instalam com a sua toalha, e todas as outras tralhas, junto ao espaço onde nos encontramosm, mesmo que à sua volta abunde areal. Muitas vezes, deixo a toalha a tomar conta de um espaço, onde procuro (não) estar, e vou caminhar pelo areal, fugindo da aglomeração. Ao fazê-lo, deixo-me seduzir visualmente com o mar, ouvindo toda aquela orquestra de sons que o agita. Só nós, eu e ele nos entendendo. Ele mostrando seu poder, a sua alegria, a sua frescura, a sua cor, eu, somente sentindo a chuva do rebentar das ondas, que esparramam pelo areal, e “ouvendo”as gaivotas sobrevoando na agitação, como coro um de orquestra. As pernas se movem, os pés se enterram na areia macia, num caminhar lento sem destino, num vazio de reflexão, uma ausência que o meu cérebro encontra sem esforço,
Por opção, escolho as chamadas horas mortas para estar na praia. Na parte da manhã, bem cedo, sentindo ainda a humidade da noite no areal e não permanecendo muitas horas, depois, ao fim da tarde, para aproveitar o regresso de todos os outros as suas casas e ficar a sós no areal extenso, com a companhia do sol que se vai deitando no mar. Nessa altura deixo-me envolver com o mar, o areal vazio e os sons do ambiente libertando o pensamento para divagar, ausentando-me, perdendo a noção de tempo e espaço.
O mar tem a força que me amedronta, a imensidão que me cativa, a sedução do seu ondular, a riqueza cromática feita de fiadas de espuma branca desenhando limites à sua tonalidade azulada demarcando-se do areal.
O mar é um bem maior, que me absorve totalmente, me deixa mais despido do que nunca, Um nudismo revelado do corpo, dos preconceitos, desejos ou vontades, É um flutuar do eu, num regressar às origens do ventre materno e seus ruídos filtrados no liquido amniótico.
Adoro aqueles momentos deitado ou sentado, fico no areal lendo, lendo, absorvido pelas palavras e pelo ambiente que me acompanha. Tem momentos, em alguns fins de tarde, que me sinto fora deste mundo, numa outra dimensão, que não esta onde habito, como se estivesse a renascer de um mundo destruído, E tem outros, em que entro numa espécie de abstração, um estado de “Alzheimer”, que me faz superar, todas as agruras que riscam a pele da vida que vivemos.
Nunca arrisquei viver muito longe do mar, acho que sentiria uma espécie de claustrofobia, sentir-me-ia sufocar, não de falta de ar ou afogamento, mas de tristeza.


dc

Sem comentários:

Enviar um comentário