sábado, 4 de novembro de 2017

Melhor seria nada ter


“Fui atrás do que procurava recuperar e que julgava certo. Encontrei um labirinto de portas que se fechavam e abriam sem encontrar a saída. Sempre evasiva temendo as amarras, fugindo quando me sentia presa ou envolvida. Perante isto, dei-me tempo, isolando-me num lugar onde me podia curar, pensar e perceber a própria ausência; aí encontrei solidariedade, conforto, amizade. e, quando por fim me pensava curada, livre para me reencontrar com tudo o que pudesse acontecer, enganei-me, ao conhecer aquelas duas “figuras”: uma, se assumia livre, segura de si, em aparente autodomínio e que, de repente questionada, se perdeu ensimesmada de incertezas, quanto ao seu desejo e forma de viver a vida; a outra, deprimida, tomada por doença misteriosa, talvez mal da alma, meiga, carente e pretendendo aconchego. De uma senti a sua presença no meu regaço, da outra o calor intenso dos seus lábios na ponta dos meus dedos, que me fizeram derreter de ternura. Optei de forma errada, quando temendo tanta doçura de uma, me deixei levar para ser regaço, julgando não poder ter o melhor de dois mundos. A percepção do erro foi imediata, não estava preparada para decidir. Melhor seria nada ter, e partir de novo ao encontro daquilo que efectivamente me encheria de alegria e felicidade, A paz de espírito que as fugas sucessivas não me davam. Teria de deixar passar mais tempo, dar a mim própria o conhecimento necessário para me redescobrir e decidir como escolher quando serei o regaço de alguém que me faz sentir o calor de seus lábios, mesmo que na ponta dos dedos.“


dc




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