segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Chapéus há muitos



Sobre a cabeça inclinada, tinha colocado um chapéu de cor clara, que lhe tapava grande parte do rosto, lobrigando-se o queixo saliente, e umas pequenas rugas em volta da boca. Aquela figura aparecera-lhe de repente do nada. Ele temia ver mais do que se via, temia encará-la se ela se revelasse totalmente. Possivelmente não seria o rosto que a sua mente mantinha vivo, e nos olhos provavelmente encontraria ambiguidade, indiferença ironia, omissão e porque não mesmo, mentira? Melhor seria não levantar o chapéu, assim tudo ficaria como antes, mantendo uma ideia positiva de alguém, que outrora, fizera parte do seu mundo de emoções. Quem sabe, se usar o chapéu não fora um modo inteligente de criar suspense, de fugir ao olhar do outro, assim sempre evitava que se percebesse que as palavras não casavam com o olhar. Talvez uma espécie de silêncio, uma forma diferente de chamar a atenção sobre si; “reparem no chapéu, no meu corpo, e esqueçam o que meus olhos dizem, ou o que sinto”, assim tudo se tornaria mais fácil, “chapéus há muitos”.

dc


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