sábado, 31 de março de 2018

Há sempre uma estória




Caminhava pela tarde, com o sol baixando ao seu leito. A cor dos campos, dum dos lados do alcatrão, tinha algo de fantástico que preenchia o meu silêncio magoado. Na  memória o seu rosto fechado, com os olhos escondidos pelos óculos escuros, quando na paragem do autocarro se despediu de mim. As coisas ainda mal começadas, já tinham desenhadas o seu fim.
Naquele caminhar, nos meus pensamentos tudo estava a preto e branco, mesmo quando sabia das cores que se passeavam pelos meus olhos. As barras brancas, que no alcatrão marcavam o lugar de passagem aos peões, iam surgindo de onde em onde, como imagens num filme de dezasseis frames por segundo. Aquele repisar, branco e preto, preto e branco, fez-me reparar que as faixas não era totalmente brancas, e que elas em si, continham desenhos vários e relevos...afinal não era tudo preto e branco, tinham nuances e relevos. Se me deixasse levar pela imaginação, até veria que dentro daqueles meios tons, havia um horizonte, com árvores e um pequeno bichano de olhos arregalados observando-me. Ganhei o dia, ou melhor a tarde, sorri, e deixei que as cores do ambiente adentrassem em mim pela porta dos olhos.

dc

P.S. Numa imagem, há sempre uma estória por trás que a sustenta.


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