sexta-feira, 22 de novembro de 2019

As cenouras


Desde que nascemos, dão-nos a cenoura da esperança. A mãe engana-nos com a chupeta, para que se cumpram os horários entre refeições, ou aproveita, para calar o choro com que nos manifestamos contra o engano. Crescemos com a promessa de que evoluiremos no padrão e qualidade de vida, se conquistarmos “coisas”, se nos esforçarmos por atingir objectivos, que nem sabemos a razão da sua existência. Assim fazemos o ensino básico, o secundário, o superior, o mestrado, o doutoramento e por aí fora, já na esperança de que quando findar nos abrirá as portas para um emprego, onde iremos subir escadas sem fim, e talvez, se nos deixarem, atingiremos o topo de carreira, na idade da reforma. Colado a isto tudo, vêm os filósofos da vida, falarem-nos karma, na auto-estima, no esoterismo, na inteligência emocional, etc. etc. tentando travar a revolta, de acabarmos de cabelos brancos, a urinar pelas pernas abaixo, a dormir de pijama caduco, olhando o espelho com olhos cansados, de um percurso de não nos lembramos bem afinal qual era o objectivo. Ou seja, procuramos mais conhecimento, crescimento, qualidade de vida, amar, estar com a natureza e morremos aos poucos nas etapas que durante o caminho nos vão engolindo, deixando-nos endurecer e sem viver, aquilo que certamente, sem nada dessas cenouras, teria decorrido, aos solavancos, talvez menos promissores, mas livres para sermos gente. São vários os especialistas que abordam este tema e lamentavelmente, a maioria de nós, só ao fim de muitos anos nos apercebemos da sua verdade. Afinal quem lucra com o desenhar destes caminhos que a sociedade envolvente faz questão de nos apresentar?

dc

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