Sentou-se no mesmo banco, onde sempre se sentavam, vendo as margens do
mesmo rio. Agora só havia uma única sombra, marcando o chão cinzento. A cor
ambiente, no entanto, era dourada, tão dourada como dourados eram os sonhos que
naquele banco, foram tecidos, quase sem palavras. As pessoas circulavam de
forma prazerosa, aproveitando a nesga de sol e calor que neste final de inverno
começava a abrir as portas à primavera. Embora fosse Carnaval, viam-se grupos, talvez
famílias, conversando e caminhando; homens e mulheres correndo ou andando de
bicicleta, outros com os cães à trela. Havia pessoas sentadas em bancos
conversando, ou simplesmente deixando correr os olhos pelo rebuliço e beleza
que a paisagem lhe trazia. Ali estava ele, como era seu hábito. Os pensamentos
vagueavam sobre o significado da frase que lera: guarde o melhor beijo da sua
amada, na sua memória, para a ele recorrer para lhe adoçar e tornar mais fácil
superar a angústia e a saudade. O sol ia caindo e a sua luz reflectia-se na
água. Levantou-se, seguiu pela margem, caminhando em direcção ao pôr do sol, captando
as sombras de outros, os sorrisos alheios, o contra luz nas árvores, o desenho
dos barcos parados, balouçando nas águas. Havia um ruído de fundo e uma brisa
mansa, que lhe trouxe um sorriso aos lábios. A memória do beijo acompanhava-o.
dc
dc
Estarmos atentos aos detalhes é muito mais do que apenas ver.
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