sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Borboletas

Olhou a data marcada nos registos e ficou-lhe a surpresa. Cinco anos passaram desde que se abraçaram, beijaram e fizeram amor. Era tempo de apagar as imagens guardadas no disco rígido da memória, que impedem o evoluir para outro estado de pensamento. Elas são uma espécie de nevoeiro que impede a visibilidade do que acontece no presente, fechando a porta à vida e à oportunidade. Apercebia-se como era um lugar-comum, as pessoas fixarem-se em determinados momentos da sua vivência, como se nada mais existisse, para além desse mundo pequenino onde habitavam as suas emoções. Era imperioso sair do buraco negro onde se metera, onde perdera referências, tinha de ir ao encontro de jardins com outras modulações e espelhos de água de íris intensa. Abrir-se a outros sons, a cheiros diferentes, deixar-se sentir as gargalhadas que como pássaros voavam até si e, sobretudo, sorrir aos sorrisos que com ela se cruzam, aos olhares que se lhe insinuam, à estética das palavras que se apressam a chegar aos seus ouvidos.

É certo que a borboleta já saiu do casulo e vai voando, pousando na boca, nos cabelos, no ombro desnudo. Transpira liberdade, é o fim do condomínio fechado, dentro do peito, que um amor tardio fixara dentro de si. Mas, há sempre um, mas que nos diz, que tanta racionalidade é um subterfúgio para disfarçar as emoções que ainda estão inscritas na pele. As cicatrizes demoram muito tempo para que sejam absorvidas e se transformem numa simples cor rosada sem importância, ou simplesmente a memória de algo irrepetível.

dc

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