Olhou a data marcada nos
registos e ficou-lhe a surpresa. Cinco anos passaram desde que se abraçaram,
beijaram e fizeram amor. Era tempo de apagar as imagens guardadas no disco rígido
da memória, que impedem o evoluir para outro estado de pensamento. Elas são uma
espécie de nevoeiro que impede a visibilidade do que acontece no presente,
fechando a porta à vida e à oportunidade. Apercebia-se como era um lugar-comum,
as pessoas fixarem-se em determinados momentos da sua vivência, como se nada
mais existisse, para além desse mundo pequenino onde habitavam as suas emoções.
Era imperioso sair do buraco negro onde se metera, onde perdera referências, tinha
de ir ao encontro de jardins com outras modulações e espelhos de água de íris
intensa. Abrir-se a outros sons, a cheiros diferentes, deixar-se sentir as gargalhadas
que como pássaros voavam até si e, sobretudo, sorrir aos sorrisos que com ela se
cruzam, aos olhares que se lhe insinuam, à estética das palavras que se
apressam a chegar aos seus ouvidos.
É certo que a borboleta já
saiu do casulo e vai voando, pousando na boca, nos cabelos, no ombro desnudo.
Transpira liberdade, é o fim do condomínio fechado, dentro do peito, que um
amor tardio fixara dentro de si. Mas, há sempre um, mas que nos diz, que tanta
racionalidade é um subterfúgio para disfarçar as emoções que ainda estão
inscritas na pele. As cicatrizes demoram muito tempo para que sejam absorvidas
e se transformem numa simples cor rosada sem importância, ou simplesmente a
memória de algo irrepetível.
dc
dc
Ler (te) para não esquecer.
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