Construí-lhe os alicerces modelando-a a meu gosto, com a
transparência das vidraças e aço na sua estrutura, dando a leveza necessária.
Ficava junto da margem, mas plena sobre a cor turquesa das águas do rio de onde
surgia. Era o lugar dos sonhos, onde construir futuros tinha a dinâmica de
dois, na partilha comum das preferências. Ali onde os segredos não existiam e o
único ruído, que queríamos ouvir, era o das nossas vozes dialogando urgências e
o deslizar das águas. Não era uma casa de bonecas, era a casa dos sonhos, umas
vezes varrida pela luz intensa que vinha com o sol do dia e o seu reflexo e,
nas noites, com o luar desenhando a nudez dos corpos, no amplo quarto, com
vista única do espelho de água e o horizonte infinito. Outras vezes a neblina
como algodão-doce nos fazia levitar, deslizando sobre a superfície das águas
rumo ao desconhecido. Mesmo quando a chuva ocorria, era como se nos banhássemos
sem molhar o corpo, adoçando os beijos. Foi ali o primeiro momento de nos
conheceremos, absorvendo a totalidade do espaço envolvente, nos conhecendo e
reconhecendo, como se juntos toda a vida. Ainda hoje resiste entre o amontoado
de quadros pintados, aquele, executado com a emoção do amor, em que se via ela
pousando a sua cabeça sobre o seu ombro e o envolvia num abraço sem fim. Afinal
um registo eternizado, dum sonho realizado, que os ligava naquela casa como se
fossem o último pilar que, imprescindível, a sustinha sobre as águas.
dc
dc
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