As palavras eram
insuficientes, para descreverem aquela iluminação solar que verrumava o céu de
tons alaranjados, ou o contraste, das sombras que dominavam o chão de folhas
caídas e os carros estacionados na orla dos passeios. Completando o cenário a
gaivota estática se desenhava em contraluz, pousada num dos candeeiros,
sensoriando no horizonte, o mar bravio donde fugira, por ausência de peixe
gordo que a fizesse mergulhar. Ali, no topo do seu mundo, ela esperançava o
lixo, que o contentor pudesse transbordar, buscando apaziguar a fome,
concorrendo com os sem-abrigo, que brevemente sairiam dos colchões cartonados,
instalados na soleira duma porta qualquer. Entretanto, ouve-se algures, o badalar
das sete horas da manhã. O sono que ainda trazia no corpo, se esvaecia agora
nas tonalidades, que lhe traziam espanto e arrimo, quebrando a rotina. Era o
começo de um dia de outono sem temores de vento agreste, da chuva e gelo. Os
olhos perdiam o horizonte, agarravam-se ao colorido que observavam e
transportavam para dentro de si calor, alegria e vontade de viver o dia. Assim
pensou: vale a pena aqui estar, neste soalho alcatroado, porque a dureza das
coisas da vida, não retira a vivência das belezas do mundo.
dc
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