Num olhar de relance, descobri
o desenho da coxa, subtilmente a surgir entre o pano do vestido, sinto nela o
desafio. Desvio o olhar refugiando-me nos teus olhos, que possuem um brilho
malicioso de descaminho, destacando-se no teu rosto. Os teus lábios entreabertos,
carnudos, pintados de vermelho, desenham a boca, meio húmida, apetecível
provocação para ser beijada. Acedi ao desafio e foi assim, como caminhar sobre
flores, que os meus dedos começaram, a percorrer o teu corpo, seguindo o rasto
dos meus lábios, que iam depositando beijos, sobre a tua pele quente, indo ao
encontro do prazer, onde o fazer do amor é forte e etéreo.
O tempo deixou de contar, até ao momento em que regressaste ao mundo dos vivos.
O teu corpo rodou numa espiral de si, deixando no ar de um rasto perfumado de
erotismo. Colocas o pé no chão, em passo largo, como que bailando, alongando os
braços sobre a cabeça voluptuosamente, deixando uma aureola desenhando teu
lugar no espaço, afastaste em direcção à luz que te submerge. De mim, sai um
suspiro sufocado, algo desconhecido se abala dentro de mim, solto um uau de
espanto, trazido à superfície, naquela angústia de não ser poeta para descrever
em palavras a riqueza do sentimento que se apodera de mim. Deste forma, às
palavras da poesia que não fui capaz de escrever.
dc
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