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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

SeM a CoNsCiÊncia do TeMpO

Olhei as árvores, o ruído das suas folhas atenuavam o silêncio com que me entretinha a meditar. Elas, enormes e austeras dominavam o espaço onde me encontrava. A chuva e o temporal que as tinha vergastado durante toda a noite, tinha-as deixado límpidas, com as suas folhas muito verdes, e os seus dorsos bem esfregados. Respiravam alegria, os pássaros de quando em vez riam-se cantarolando em seus braços, amornando o meu estar e fragilizando a realidade, atirando-me para um meditação transcendental, como se num mosteiro de monges tibetanos.... aááááááááááá´ááááá.... .ééééééé´ééééé ..... iiiiiiiiiiiiii...... uuuuuuuuuu....... oooooooooo aaaaaaaaeeeeeeeeeemmmmmmm... aaaaaaaiiiiiieeeeeeeaaaaaaammmmmm, que rompia todos os silêncios menos o que dentro ficava flutuando entre respiração pausada e a mente, transportando-me para uma outra dimensão inexplicável ao comum dos mortais.

Lentamente os olhos semicerrados deixaram de ver e tudo o que me rodeava deixou de ter consistência, desaparecendo no meio do azul do céu... flutuava no alto de uma montanha, vendo toda a paisagem deslumbrante que se desenvolvia abaixo de mim, como integrado num paraíso tantas vezes falado e raras vezes sentido. Ali a paz existia, ali o mundo tinha a serenidade apetecida, ali não se viam pessoas pressentia-se que existiam na sua invisibilidade.

Sem a consciência do tempo, ou dos pensamentos que se perpassaram, permaneci nessa vivência letárgica até que um pássaro, mais atrevido, me acordou no seu pipilar irrequieto junto aos meus pés, como se temesse o meu não regresso ao mundo dos vivos.

Abri lentamente os olhos respirei profundamente, observei novamente as minhas amigas árvores e vi auréola que as desenhava contra o céu, registei a sua beleza e agradeci por me terem ajudado a encontrar um outro caminho.

O pacifico “lavrador” sentado como que em sentido, ladrava baixinho olhando-me com os seus olhos doces, como se quisesse acariciar-me o despertar e amenizar os voltei-os do pássaro atrevido. Com o seu instinto sentira que eu temporariamente me perdera num outro lugar e chorava a minha ausência.


terça-feira, 24 de julho de 2012

SILÊNCIO INTERIOR



Como explicar o mundo que se gera dentro de nós quando estamos horas em silêncio? Vemos o mundo que gira e vive fora de nós como num filme em câmara lenta. Pensamos em tudo sem que aqueles que nos rodeiam se apercebam, ou sintam as nossas vibrações.

Por vezes penso será o mundo de silêncio dos surdos? Como viverão eles o dia à dia, sem os ruídos, que o nosso silêncio não tira? Nós temos mais propriamente mutismo. silêncio porque estamos calados. Silêncio, porque estamos atentos precisamente ao que ouvimos fora e dentro do nosso cérebro.

Há quem diga que o silêncio “fala”, substitui a resposta que se não quer dar. Se assim for não é silêncio, pois comunica-se algo nesse silêncio. O silêncio, silêncio a que me refiro, é aquele que não pretende falar, mas que é vivido por dentro de nós, e não existe som mas pensamento.

Sentimos um silêncio dentro de um outro silêncio do qual tememos o caminho para onde nos leva.

Só e silêncio, duas formas de estar perante o universo que nos rodeia, tentando a todo o momento passar para o outro lado desconhecido, que gera os sonhos e nos leva para uma outra dimensão, que não sabemos se avançada ou atrasada em relação ao presente. Navegamos sem mapa nem bússola de uns temas para os outros em nanossegundos. Sem nos fixarmos muito tempo num único assunto, vamos entrando numa espécie de transe.

Os ruídos são perfeitamente distintos entre si, como se uma orquestra com os seus diversos instrumentos produzisse uma sinfonia dentro da nossa cabeça. Um pássaro, o ruído de fundo da estrada, o barulho das pessoas nas escadas, conversas distantes das quais não estamos interessados, gritos e choro de criança, o frigorifico e o seu ronronar. se fecharmos os olhos quase sentimos o sangue a circular no corpo.


“ Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. ” Antoine Lavoisier

Assim é o nosso viver, seja ele de silêncios e emoções. A alegria de ontem a tristeza de hoje, a miséria de uns enriquece outros. O cérebro não pára o clique é constante, Sim a temperatura está agradável... não sei para que escrevo isto. se calhar ninguém está interessado no silêncio, ou no que eu penso sobre o silêncio... será que pensamos bem nos outros, nas nossas atitudes... quem são os outros que não tenho na equação...os amigos..sim existem.. embora distantes e nem sempre disponíveis... pois sim, mal me conhecia e julgava-me...será que conhecia...saudade, gostar...amar?... porque será que o António se pega comigo, serei eu o ranhoso o chato, se calhar sou...tenho de me corrigir...é bom por vezes não ouvir as mesmas pessoas...ah como é difícil conviver...conviver não é difícil a sociedade é que nos lixa..sim torna-nos egoístas a todos... um pouco.. olhamos mais para nós próprios...porque será que somos tão impacientes e não temos tempo para os outros???... a vida precisa do dinheiro como diz o outro “ o dinheiro não trás a felicidade mas ajuda”...a merda deste governo que nos deixa sem dinheiro.. lixa-nos a vida...os cabrões dos bancos é que se safam...tem de haver outra revolução....pois.. como será o silêncio dos outros, será igual ao meu, ou mais confuso, e será que têm estes momentos de silêncio... bem tenho de preparar o almoço...chiça sempre a mesma merda de rotina... e comer ouvindo na nossa cabeça o ruído dos talheres batendo, a boca mastigando e o vinho a ser sorvido, o cheiro dos alimentos.. quando comemos acompanhados não nos apercebemos...sim está cada vez mais complicado viver do salário..ou da reforma.. quando for ao médico terei de lhe dizer que falo de mim para mim, em silêncio... será que vai pensar que estou doido...estarei?... já nem sei...é tudo tão estranho...

Nesta rotina cerebral do silêncio, julgamos somos julgados, apreciamos analisamos e vivemos tudo e registamos num grande rolo de papel higiénico onde assentamos tudo e não sabemos se vai ter o mesmo fim para o qual o papel foi criado.

Será, que na manutenção do silêncio interior, conseguimos mudar e fazer discursos variados conforme o dia e a disposição ao acordar, ou fazemo-lo como necessidade de ir limpando sistematicamente todos os últimos pensamentos, como se de uma catarse intencional? Tudo fica registado no disco rígido do nosso computador cerebral, máquina infernal que deixa de fora tudo o que o incomoda sempre que é preciso, quando não acontece é grave pode resultar em loucura.

Este silêncio será um pouco como uma regressão, com visitas constantes aos diferentes momentos do dia, como pode ser ao nosso passado. Sim porque se herdamos dos nosso pais morfologias genéticas, o nosso cérebro também deve fazer o mesmo. O computador cerebral deve ter também o registo do passado de nossos avós, bisavós e por aí a diante. Daí dizerem que o nosso cérebro quando hipnotizado, ou em determinadas situações se “relembra”. Este assunto das regressões é divertido, porque a nossa cabecinha deve trazer à tona coisas do caraças. De certeza que não fomos nós que vivemos nesse tal outro tempo, mas sempre acredito que o registo no nosso cérebro traga ao de cima as tais memórias dos nossos antepassados. Às vezes até se diz: “Pareces o teu avô...”. Claro... lá está o meu silêncio a pregar-me partidas...a trazer-me ao caminho pensamentos perigosos.

Às vezes somos tal mal interpretados, é melhor de facto fechar a boca e deixar que os outros digam o que lhes vai na real veneta, enquanto nós, ficamos no nosso cantinho de silêncio esperando que tudo passe.

Nunca tinha pensado o silêncio desta forma. Será mesmo o silêncio ou a solidão? Dizem que a solidão por vezes funciona de modo positivo, para termos tempo de pensar nas asneiras, nas coisas boas que fizemos, dos passos que demos e os que podíamos ter dado. No fim meditar, não fixar o pensamento e olhar para o invisível, ou fechar os olhos e deixarmo-nos ir. Não, deixarmo-nos ir é perigoso, nunca sabemos o que iremos descobrir, o melhor é não chegar aí. O nosso cérebro avisa-nos, torna a respiração ofegante de repente e fugimos desse outro lado para onde nos sentimos ser arrastados.

Neste silêncio retiro, onde no meio dos outros, se está só, é-nos permitido ficar mais cientes de nós e encontrar as respostas que no mundo ruidoso que nos rodeia são difíceis de encontrar. Nem sempre, nem nunca, mas de vez em quando é necessário, a bem da nossa estabilidade física e mental.

DC

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A QUEDA ERA UM SONHO


Saltei voando do parapeito da janela do meu mundo
E senti o vento esmagando a pele, o ar forçado no peito

O pássaro passou por mim rindo a preceito
sabendo que meu corpo morria de qualquer jeito

Na surpresa inesperada de um lugar amortecido
A queda era um sonho no acordar desaparecido

De olhos bem abertos para acreditar na luz do dia
O meu sonho se interrompia e meu voo era agora de alegria

sábado, 7 de julho de 2012

AS PALAVRAS VÃO MAIS LONGE

Os lábios se selaram assombrados pelos seus pensamentos.

Como seria, se as palavras saíssem voando dizendo da cor dos sonhos, revelando o cheiro das flores, falando de abraços beijos e cansaços. das conversas faladas junto do travesseiro, dos sonhos vividos, dos momentos sofridos, das gargalhadas soltas. do medo que se percam nos dias. das ternuras sim as ternuras dos teus gestos. dos teus dedos, que na carícia traziam para dentro de mim, bem dentro, bem fundo, o desejo de te amar. Perderiam elas o sentido quando largadas no ar mitigado de oxigénio, de vida. Transformar-se-iam, perdendo o corpo. Seriam de todos menos de ti, seriam gostadas, menos por ti, que não as ouvirias, porque partistes e a distância te transformou tal como um rasto de avião que se desfaz lentamente no céu.

Resta-lhes ficar dentro de mim, fazendo puzzles comunicacionais, procurando rimas, sentidos, emoções outras, que não as delas, mas que partem delas, e se dispersam e reagrupam como que perdidas nos labirintos da razão.

Talvez com o tempo surjam no papel, umas com letra de forma traçado e espessura irregular, outras firmes e decididas misturando maiúsculas e minúsculas, a revelarem a sua essência. É verdade que deixarão de ser tuas, passarão a ser do mundo, porque todos as conhecerão, embora sempre tu dentro delas. E acredito arriscar, que um dia, olhando em diagonal a montra que por ti desliza, ao caminhar em ruas de um outro lugar, as vejas tituladas e assinadas, e saberás que são tuas, só alguém que te conhece o cheiro, te caminhou na pele, as saberá dizer e fazer chegar tão longe.