terça-feira, 24 de julho de 2012

SILÊNCIO INTERIOR



Como explicar o mundo que se gera dentro de nós quando estamos horas em silêncio? Vemos o mundo que gira e vive fora de nós como num filme em câmara lenta. Pensamos em tudo sem que aqueles que nos rodeiam se apercebam, ou sintam as nossas vibrações.

Por vezes penso será o mundo de silêncio dos surdos? Como viverão eles o dia à dia, sem os ruídos, que o nosso silêncio não tira? Nós temos mais propriamente mutismo. silêncio porque estamos calados. Silêncio, porque estamos atentos precisamente ao que ouvimos fora e dentro do nosso cérebro.

Há quem diga que o silêncio “fala”, substitui a resposta que se não quer dar. Se assim for não é silêncio, pois comunica-se algo nesse silêncio. O silêncio, silêncio a que me refiro, é aquele que não pretende falar, mas que é vivido por dentro de nós, e não existe som mas pensamento.

Sentimos um silêncio dentro de um outro silêncio do qual tememos o caminho para onde nos leva.

Só e silêncio, duas formas de estar perante o universo que nos rodeia, tentando a todo o momento passar para o outro lado desconhecido, que gera os sonhos e nos leva para uma outra dimensão, que não sabemos se avançada ou atrasada em relação ao presente. Navegamos sem mapa nem bússola de uns temas para os outros em nanossegundos. Sem nos fixarmos muito tempo num único assunto, vamos entrando numa espécie de transe.

Os ruídos são perfeitamente distintos entre si, como se uma orquestra com os seus diversos instrumentos produzisse uma sinfonia dentro da nossa cabeça. Um pássaro, o ruído de fundo da estrada, o barulho das pessoas nas escadas, conversas distantes das quais não estamos interessados, gritos e choro de criança, o frigorifico e o seu ronronar. se fecharmos os olhos quase sentimos o sangue a circular no corpo.


“ Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. ” Antoine Lavoisier

Assim é o nosso viver, seja ele de silêncios e emoções. A alegria de ontem a tristeza de hoje, a miséria de uns enriquece outros. O cérebro não pára o clique é constante, Sim a temperatura está agradável... não sei para que escrevo isto. se calhar ninguém está interessado no silêncio, ou no que eu penso sobre o silêncio... será que pensamos bem nos outros, nas nossas atitudes... quem são os outros que não tenho na equação...os amigos..sim existem.. embora distantes e nem sempre disponíveis... pois sim, mal me conhecia e julgava-me...será que conhecia...saudade, gostar...amar?... porque será que o António se pega comigo, serei eu o ranhoso o chato, se calhar sou...tenho de me corrigir...é bom por vezes não ouvir as mesmas pessoas...ah como é difícil conviver...conviver não é difícil a sociedade é que nos lixa..sim torna-nos egoístas a todos... um pouco.. olhamos mais para nós próprios...porque será que somos tão impacientes e não temos tempo para os outros???... a vida precisa do dinheiro como diz o outro “ o dinheiro não trás a felicidade mas ajuda”...a merda deste governo que nos deixa sem dinheiro.. lixa-nos a vida...os cabrões dos bancos é que se safam...tem de haver outra revolução....pois.. como será o silêncio dos outros, será igual ao meu, ou mais confuso, e será que têm estes momentos de silêncio... bem tenho de preparar o almoço...chiça sempre a mesma merda de rotina... e comer ouvindo na nossa cabeça o ruído dos talheres batendo, a boca mastigando e o vinho a ser sorvido, o cheiro dos alimentos.. quando comemos acompanhados não nos apercebemos...sim está cada vez mais complicado viver do salário..ou da reforma.. quando for ao médico terei de lhe dizer que falo de mim para mim, em silêncio... será que vai pensar que estou doido...estarei?... já nem sei...é tudo tão estranho...

Nesta rotina cerebral do silêncio, julgamos somos julgados, apreciamos analisamos e vivemos tudo e registamos num grande rolo de papel higiénico onde assentamos tudo e não sabemos se vai ter o mesmo fim para o qual o papel foi criado.

Será, que na manutenção do silêncio interior, conseguimos mudar e fazer discursos variados conforme o dia e a disposição ao acordar, ou fazemo-lo como necessidade de ir limpando sistematicamente todos os últimos pensamentos, como se de uma catarse intencional? Tudo fica registado no disco rígido do nosso computador cerebral, máquina infernal que deixa de fora tudo o que o incomoda sempre que é preciso, quando não acontece é grave pode resultar em loucura.

Este silêncio será um pouco como uma regressão, com visitas constantes aos diferentes momentos do dia, como pode ser ao nosso passado. Sim porque se herdamos dos nosso pais morfologias genéticas, o nosso cérebro também deve fazer o mesmo. O computador cerebral deve ter também o registo do passado de nossos avós, bisavós e por aí a diante. Daí dizerem que o nosso cérebro quando hipnotizado, ou em determinadas situações se “relembra”. Este assunto das regressões é divertido, porque a nossa cabecinha deve trazer à tona coisas do caraças. De certeza que não fomos nós que vivemos nesse tal outro tempo, mas sempre acredito que o registo no nosso cérebro traga ao de cima as tais memórias dos nossos antepassados. Às vezes até se diz: “Pareces o teu avô...”. Claro... lá está o meu silêncio a pregar-me partidas...a trazer-me ao caminho pensamentos perigosos.

Às vezes somos tal mal interpretados, é melhor de facto fechar a boca e deixar que os outros digam o que lhes vai na real veneta, enquanto nós, ficamos no nosso cantinho de silêncio esperando que tudo passe.

Nunca tinha pensado o silêncio desta forma. Será mesmo o silêncio ou a solidão? Dizem que a solidão por vezes funciona de modo positivo, para termos tempo de pensar nas asneiras, nas coisas boas que fizemos, dos passos que demos e os que podíamos ter dado. No fim meditar, não fixar o pensamento e olhar para o invisível, ou fechar os olhos e deixarmo-nos ir. Não, deixarmo-nos ir é perigoso, nunca sabemos o que iremos descobrir, o melhor é não chegar aí. O nosso cérebro avisa-nos, torna a respiração ofegante de repente e fugimos desse outro lado para onde nos sentimos ser arrastados.

Neste silêncio retiro, onde no meio dos outros, se está só, é-nos permitido ficar mais cientes de nós e encontrar as respostas que no mundo ruidoso que nos rodeia são difíceis de encontrar. Nem sempre, nem nunca, mas de vez em quando é necessário, a bem da nossa estabilidade física e mental.

DC

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