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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Chão frio de nada




Fiquei preso nas muralhas que inventaste para que eu me afastasse, porque temias que tudo fosse mais além, de que um mero encontro de beijos e abraços. Os muros altos do narcisismo, da grandeza outrora vivida, traziam-te pretensões maiores que o alcance do momento. Como muitas procuras que se pretendem, por não entendimento do viver, morrem na praia sem se encontrarem, fica somente o vazio de uma luta perdida. O que tinhas na mão, se foi em voo rasante até atingir o céu sublime, e tu, agarraste o chão frio do nada.

dc

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O adeus acontece




a pele se arrepia
neste adentrar
da melodia
a dor se instala
o
adeus acontece
o amor fenece

a voz se sumiu
a música parou
o vazio cresceu
o silêncio feriu
a alma marcou
e a solidão
se lhe ofereceu

doce enlevo
sem a sorte do trevo
se foi
se perdeu
como folhas
de um romance
que nunca se escreveu 


dc

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Oiço Vozes




É difícil calar a voz que dentro de mim deambula, dando voltas repetitivas para que não saia a destempo. Tem entoações várias de acordo com os sentimentos, as emoções, os julgamentos que faz, por vezes aconselha-me, outras manda-me à merda, Fala com a minha voz e a de outros, como se de uma conversa cruzada. Uns dizem que devo estar esquizofrénico, ouço vozes, outros dizem.. mentira, não são os outros que dizem, é a tal voz que me segue. Sou um felizardo, tenho uma voz que fala tipo ventríloquo e me acompanha. Nem sempre a melhor conselheira, anda para cima e para baixo, parece não querer que o mutismo me tome. Dizem, lá estou eu, ela diz que é a voz do senso, da ponderação do pensamento procurando a forma certa de se ouvir. Na verdade enquanto ela fala eu calo-me para o exterior e permito que os outros falem, digam de si, mais do que alguma vez o fariam, se eu deixasse que meus lábios se abrissem para falar.
Hoje, aquela voz mais intima, falou-me de forma especial, aconselhou-me a escrever o que eu pensava, pondo em palavras o que as vozes diziam, deixando que livremente se registassem, Sugeria-me assim, libertar o silêncio de forma saudável dentro de mim, com a possibilidade até, de mais tarde, poder lê-las e meditar nos seus significados. De veras prefiro não as escrever, não gostaria de dividir com toda a gente os meus pensamentos, prefiro a reserva mental, fazer sozinho a catarse tentando descobrir o melhor e o pior de mim, ou dos outros. E depois o que seria, sem a guerra do raciocínio, do pensar intenso, da vivência das emoções, do avanço e retrocesso, da efabulação, da mentira criativa que alimenta as nossas estórias? Certamente ficaria triste de perder esse diálogo interno, e até correr o risco, de que esse famoso alemão “Alzheimer” me visitasse.

dc

"precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, não criticá-la, não usá-la."

(michel foucault)


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Palavras "cabronas"




As palavras surgem, antecipam-se, colocam-se no texto tão rapidamente que nunca sei se sou eu que as comando ou elas que me comandam a mim. Muitas vezes elas surgem dizendo mais do que seria de bom tom, trazem à superfície mais intenção, mais força, mais do pensamento que o que eu previa. Revelam meus segredos, o meu eu que se esconde na morfologia física. Tenho momentos que tenho medo de escrever, tal a forma como as palavras dizem mais do que queria, revelam sentimentos e emoções que tinha dentro de mim guardadas e que de repente se tornam leitura comum dos outros. Isto assusta-me, eu não quero ser personagem das minhas palavras, eu quero que elas falem do comum dos outros, mas não gosto quando elas falam de mim declaradamente. Há momentos que as letras começam a surgir, tento impedir que a palavra se forme, mas não consigo resistir, é como um vício, elas colocam-se umas a seguir às outras e a palavra sai, sugere outras que se vão compondo em frases, os dedos obedecem como se fossem robotizados. Não é por acaso que eu fujo de olhar o teclado, escondo-o das mãos, elas não resistem em  escrever coisas que não devem sair dentro de mim, que deveriam estar no meu intimo sem que os outros saibam. Para quê revelar as minhas dores, os meus sentimentos, as minhas emoções, defeitos e virtudes? As palavras e as frases não têm o direito de revelar o que é só meu. Já me zanguei forte e feio com o novo dicionário e gramática, resultantes do último acordo ortográfico, por não entenderem algumas das palavras que uso, dizem ser inventadas, Até essas resistem e pretendem ser elas próprias senhoras do seu destino, mostrando a minha ignorância e incapacidade, nesta coisa de escrever. Como alguém dizia, tudo o que escrevemos tem algo de autobiográfico, para quê culpar os outros da nossa incompetência, neste caso, as palavras.

dc

PS: Como se pode ver pelo título, são elas que escolhem e me deixam boquiaberto, já não há palavras como outrora, que respeitem quem escreve e quem lê. Se fosse eu a escolher teria colocado "Palavras Sábias"







quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Outono, em bicos de pés





O Outono já alguns dias se instalou e nem dele me apercebi. Chegou em bicos de pés. Já as folhas de amarelo torrado começavam a aparecer no chão, e com elas as variantes do tempo, quando despertei para a mudança do clima, mais a mais que o calor não se fora de todo. Tem momentos que é assim estamos meio adormecidos com o que nos envolve, que dos dias nos distraímos de tal modo, que já nem sabemos se a noite é a noite, nem se o dia é o dia. Talvez porque nos perdemos nas memórias do verão, ainda há poucos dias findo, com os seus pedaços de conversas sussurradas pela noite dentro; os beijos escondidos, sem se saber a razão; os lugares visitados; os vinhos bebidos e saboreados; o mar e o seu areal visitado; partilhas de tantas coisas e outras mil verdades. Muito de bom aconteceu, porque preparou o agora, enriquecendo o solo fértil de vontades e amor à vida.
Agora, nada mais se espera se não que as chuvas cheguem, que o vento ocorra despindo as árvores, que o frio não seja intenso e as noites nos tragam sonhos aconchegantes.
Outono estação de transição, amarelecendo os verdes, reduzindo os calores excessivos do verão,  apresentando-nos o sr. Inverno.


dc