Em tempos passados, passear na cidade, ajudava a debelar angústias, e acalmar o espírito, no chamado “passeio dos tristes”, nos deixava folgados física e mentalmente para os dias duros do dia à dia.
Caminhei por algumas das ruas da minha cidade, e apercebi-me, pela primeira vez, que a idade se marca pelas mudanças. A cada momento, um lugar de referência de outrora desapareceu. Desaparecem cantos, esquinas, edifícios, jardins. Desapareceram lugares para as crianças brincarem e jogarem à bola, nem ás "escondidas" e com eles as memórias. Estas, são o único local onde existe a “minha cidade”.
O progresso abre caminhos a direito, e nem sempre para melhor. Sentimos um frio enorme com o aparecimento indiscriminado do betão. As árvores e os quintais desaparecem e dão lugar a centros comerciais, bancos em espaços de lazer, onde ninguém se sente bem para estar e grandes superfícies lisas, desertas, com revivalismo surpreendente, sobretudo nos limites, do centro da cidade.
Hoje ao caminhar na cidade, senti-me mais só do que já estava, senti-me perdido, quase precisei de um GPS, para saber onde estava. A cidade vulgariza-se torna-se muito igual a muitas outras por esse mundo fora perdendo a identidade regional e nacional. Mas pior de tudo é a sensação de perda que sentimos, quando o chamado progresso, não nos integra como seres humanos e nos arrasta para uma ausência de alegria e prazer de dizer “esta é a minha cidade”.
Para alguém que viveu esta cidade. E que teve a sorte, ainda, de ver locais onde a mudança não retirara as suas referências do passado.
domingo, 29 de janeiro de 2012
ONDE ESTÁ A MINHA CIDADE
sábado, 28 de janeiro de 2012
QUANDO TE VAIS EMBORA
Quando te vais embora, os dias são longos e a noite se torna fria.
Só o horizonte em pleno mar, marca a diferença, entre o céu e o inferno.
Lá procuro a resposta, com o ruído de fundo das gaivotas.
O tempo pára. Não quero sentir a partida, somente a chegada.
Com ela o sorriso, a voz e os cheiros, como anúncio do fim de inverno.
A angústia desaparece. Renasce o mundo, anunciando a primavera
Um rasto de folhas secas e dor
Por vezes contrariamos e sustentamos os obstáculos invisíveis .
Matamos de sede à flor que nasce. Irremediavelmente ela fenece deixando um rasto de folhas secas e dor
Se não partilhamos sentires, verdades, valores, emoções, vontades .
Se não perdermos o medo ao fracasso, fracassamos por medo de experimentar
É no levantar de cada queda, que nasce um força maior, que constrói o amor.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Antes que o adeus aconteça
de Eugénio de Andrade
Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
APRENDER COM A NATUREZA
Só da união de todos os portugueses, contra as políticas desastrosas deste governo, é que poderemos evitar, no ano de 2012, que o número de desempregados chegue a cima de um milhão. E como sabemos, os direitos dos trabalhadores perante o desemprego foram diminuídos com consequências desastrosas para todos nós.
"A análise das medidas para 2012constantes do Memorando revisto em Dezembro de 2011, à margem da Assembleia da República, o governo e a “troika” estrangeira, confirma o carácter irrealista e desumano daquilo que o governo e “troika” pretendem impor aos portugueses em 2012. Governo e “troika” tencionam reduzir os salários do sector público em, pelo menos, 3.000 milhões €, o que vai determinar uma degradação, por falta de pessoal e desmotivação, de serviços públicos essenciais à população
(educação, saúde, segurança social, justiça, etc.); diminuir as despesas com pensões em 1.260 milhões € o que vai lançar muitos milhares de pensionistas na pobreza; cortar 1000 € nasdespesas públicas com a saúde e 380 milhões € nas despesas com educação, o que levará a uma grande degradação dos serviços públicos de saúde e de educação; reduzir o investimento público em 200 milhões €, o que contribuirá para que não se crie emprego; baixar em 100 milhões € as transferências do OE destinadas a prestações sociais, o que fará aumentar a pobreza e a miséria; reduzir as transferências para as Autarquias em 175 milhões € e cortar mais 130 milhões € despesas pública por aumento da eficiência, embora não diga onde e como, etc., etc."
Eugénio Rosa, Economista
edr2@netcabo.pt 28.12.2011
Amor porque fugiste
Pois é, vais-te ficar por aqui. Não vale a pena chorar pelo passado que não volta nem pelo futuro que não sabes. Pensavas que um dia chegaria a hora de partir e terias sabido qual o paladar do amor. Qual o seu cheiro, a sua ternura, o seu calor e alegria...ficaste parado no tempo, deixaste preguiçar-te perdendo oportunidades umas atrás das outras, não por quereres mas porque não te apercebias que elas estavam ali na tua frente. Tu bem sonhavas, imaginavas beijos abraços ternuras. Tu bem imaginavas o beijo e as palavras quentes e profundas do teu amor, aquela alma que te complementava a vida. Adoravas imaginar os olhos brilhantes depois do amor, depois do amplexo final. Daquele mundo de carícias que se transforma (dizem) em explosões de estrelas, de torrentes de lava que percorrem o corpo moldando-o à terra onde fecunda.
Sofre-se na pele a revolta, pelo o amor que se quer e não aparece. O amor que não nos vem aquecer a vida. Arrepiámo-nos por saber a morte cada vez mais perto, e a esperança tornar-se cada vez mais ténue.
Onde estás tu, rosto corpo alma, que fugiste do seu amor? Porque razão, tu não destilaste a química dos amantes? O que te fez afugentar, a alma que te completaria? Esta é a crueldade de quem vive, em tempo moderno, sonho antigo. Tudo está mais perto, mas as almas amantes... cada vez mais longe. Quase apetece pôr anúncio, curto, sucinto: “ preciso de ti num corpo que não sei qual, numa alma que não sei bem o quê, de um rosto que de agrado existe, de uma inteligência que será livre de se exprimir numa qualquer cultura, quanto baste para seres. Dá-se quanto podes imaginar e muito mais quando duplicado no amor que serás.”
Nas ruas do sonho, ainda podes viver. A tua imaginação, fértil, irá dizer que ainda há vida para viver, mesmo que só aqui neste texto ela exista.
Na realidade, nessa cruel realidade, verás que difícil será que te entendam, e continuarás a ocupar o tempo lendo, analisando, trabalhando, falando e muitas vezes para o boneco. Verás no espelho o rosto cada vez mais carregado de rugas, verás que os olhos vão ficando baços, a carne flácida e a vontade de lutar se esbatendo. Lentamente criarás uma mente Alzhaimer, para que não te dês ao trabalho de sofrer em cada dia que passa. Restará sempre a pergunta: Amor porque fugiste?
Etiquetas:
Foto:Diamantino Carvalho
Subscrever:
Mensagens (Atom)