quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

JOSÉ AFONSO, CANTOR DA REVOLUÇÃO

Coimbra. Esta é da poucas homenagens
que se podem encontrar a este
cantor de intervenção, que tanto deu
ao seu país.
JOSÈ AFONSO, o "ZECA", como era mais conhecido Faleceu a 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às três horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica. Faz agora vinte cinco anos.

Lembro-me de o ouvir cantar ao vivo em festas de estudantes, e de movimentos de jovens para os quais sempre, arranjava algum tempo disponível. Não raras vezes me emocionei a ouvi-lo, nesses tempos.
Foi um cantor de intervenção política de qualidade ímpar, no seu país e a além fronteiras.
Merecia ter o reconhecimento dos poderes políticos, e não só, deste país prestando-lhe uma homenagem que marcasse bem a sua importância como cantor e músico.
Para os que como eu, que sempre convivemos com a sua música, ao longo dos anos, dificilmente o esqueceremos.

Eis alguns dados retirados da Wikipédia. que nos dá a  dimensão deste figura ímpar da música portuguesa.

Começando por cantar em festas populares e em colectividades, lança, em 1960, o seu quarto disco, Balada do Outono. Em 1962 segue atentamente a crise académica de Lisboa, convive, em Faro, com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa. Segue-se uma nova digressão em Angola, com a Tuna Académica da Universidade de Coimbra, no mesmo ano em que vê editado o álbum Coimbra Orfeon of Portugal. Nesse disco José Afonso rompe com o acompanhamento das guitarras de Coimbra, fazendo-se acompanhar, nas canções Minha Mãe e Balada Aleixo, pelas violas de José Niza e Durval Moreirinhas.

Em 1963 termina a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, com uma tese sobre Jean-Paul Sartre, intitulada Implicações substancialistas na filosofia sartriana.

No mesmo ano são editados os primeiros temas de carácter vincadamente político, Os Vampiros e Menino do Bairro Negro - o primeiro contra a opressão do capitalismo, o segundo, inspirado na miséria do Bairro do Barredo, no Porto  -  integravam o disco Baladas de Coimbra, que viria a ser proibido pela Censura. Os Vampiros, juntamente com Trova do Vento que Passa (um poema de Manuel Alegre, musicado e cantado por Adriano Correia de Oliveira) viriam a tornar-se símbolos de resistência anti-Salazarista da época.

Realiza digressões pela Suíça, Alemanha e Suécia, integrado num grupo de fados e guitarras, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e ainda da fadista lisboeta Esmeralda Amoedo.

Em Maio de 1964 José Afonso actua na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, onde se inspira para fazer a canção Grândola, Vila Morena. A música viria a ser a senha do Movimento das Forças Armadas no golpe de 25 de Abril de 1974, permanecendo como uma das músicas mais significativas do período revolucionário. Ainda naquele ano são lançados os álbuns Cantares de José Afonso e Baladas e Canções.

Ainda em 1964, José Afonso estabelece-se em Lourenço Marques, com Zélia, reencontrando os filhos do anterior casamento. Entre 1965 e 1967 é professor no Liceu Pêro de Anaia, na cidade da Beira, e em Lourenço Marques. Colabora com um grupo de teatro local, musicando uma peça de Bertolt Brecht, A Excepção e a Regra. Manifesta-se contra o colonialismo, o que lhe causa problemas com a PIDE, a polícia política do Estado Novo. Em Moçambique nasce a sua filha Joana, em 1965.

Residiu, entre 1964 e 1967, em Moçambique, acompanhado pelos dos filhos e pela sua companheira, Zélia, tendo ensinado na Beira, e em Lourenço Marques. Nesta altura, começa a sua carreira política, em defesa dos ideais de independência, o que lhe valeu a atenção dos agentes do governo colonial.

Intervenção política até à Revolução de 25 de Abril

Quando regressa a Portugal, em 1967, é colocado como professor em Setúbal; no entanto, fica a leccionar pouco tempo, pois acaba por ser expulso do ensino oficial, depois de um período de doença. Para sobreviver, começa a dar explicações.A partir desse ano, torna-se definitivamente um símbolo da resistência democrática. Mantém contactos com a Liga Unitária de Acção Revolucionária e o Partido Comunista Português — ainda que se mantenha independente de partidos — e é preso pela PIDE. Continua a cantar e participa no I Encontro da Chanson Portugaise de Combat, em Paris, em 1969. Grava também Cantares do Andarilho, recebendo o prémio da Casa da Imprensa pelo Melhor Disco do Ano, e o prémio da Melhor Interpretação. Para que o seu nome não seja censurado, Zeca Afonso passa a ser tratado nos jornais pelo anagrama Esoj Osnofa.

Em 1971 edita Cantigas do Maio, no qual surge Grândola, Vila Morena. Zeca participa em vários festivais, sendo também publicado um livro sobre ele e lança o LP Eu vou ser como a toupeira. Em 1973 canta no III Congresso da Oposição Democrática e grava o álbum Venham mais Cinco. Ao mesmo tempo, começa a dedicar-se ao canto, e apoia várias instituições populares, enquanto que continua a sua carreira política na Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

Entre abril e maio de 1973 esteve detido no Forte-prisão de Caxias pela PIDE/DGS.

Período após a Revolução dos Cravos

Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, acentua a sua defesa da liberdade, tendo realizado várias sessões de apoio a diversos movimentos, em Portugal e no estrangeiro; retoma, igualmente, a sua função de professor.Continuou a cantar, gravando o LP Coro dos Tribunais, ao mesmo tempo que se envolve em numerosas sessões do Canto Livre Perseguido, bem como nas campanhas de alfabetização do MFA. A sua intervenção política não pára, tornando-se um admirador do período do PREC. Em 1976 declara o seu apoio à campanha presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho.

Os seus últimos espectáculos terão lugar nos coliseus de Lisboa e do Porto, em 1983, numa fase avançada da sua doença. No final desse mesmo ano é-lhe atribuída a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa a distinção.

Em 1985, é editado o seu último álbum de originais, Galinhas do Mato, no qual, devido estado da doença, Zeca não consegue interpretar todas as músicas previstas. O álbum acaba por ser completado por José Mário Branco, Sérgio Godinho, Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. Em 1986 apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo a Presidente da República.

Prémios e homenagens

Foi laureado pela Casa da Imprensa, como o melhor compositor e intérprete de música ligeira, nos anos de 1969, 1970 e 1971.

Foi, igualmente, homenageado pela Câmara Municipal de Lagos, que colocou o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.

Em 2007, foi homenageado na IX Grande Noite do Fado Académico, na Casa da Música (Porto), numa organização do Grupo de Fados do ISEP e da Associação de Estudantes do ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto).




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

FOI FALAR COM O MAR


Foi falar com o Mar. Companheiro de muitas horas. Ouvinte silencioso, que só responde de onde em onda. Ele acalma o peito, afaga a alma, deixa-nos abertos à vida. É um amigo único, a ter mais perto, porque disponível, para os desabafos. Ele na sua imensidão, na sua cor que acalma, suporta os gritos de revolta, a brisa agreste, o vento das tempestades da sua dor.

Estava ali falando com o mar, para que ele o deixasse gritar em pleno dia, a noite que dentro dele se instalara. Ele, o Mar, impávido, como bom amigo que é, foi sua fuga, para o horizonte, não o que se adivinha entre ele e o céu, mas aquele que precisava encontrar, para descobrir quantos passos e caminho tinha para andar.


Olhava o mar na sua imensidão, que perigosamente o atraía, perguntava-lhe se ele se aperceberia de quanto era importante para os inúmeros seres que o procuram para falar. Perguntava-lhe se ele não o quereria levar a velejar nessas ondas, até esse outro mundo das profundezas, recheado pelo colorido dos seus habitantes e dos que nele sucumbem. O Mar, amigo, levantou-lhe o orgulho e o ego, levando-o a amar a vida. Foi ele que lhe falou do seu grande amor. O amor puro, aquele que na sua quietude, ou agitação, continua amar, a sua Lua. Ela, a Lua, que por vezes se esconde, mas ele sente a sua atracção, ondulando ao seu ritmo, com mais ou menos intensidade, de acordo com os seus caprichos, com o prazer e alegria de sentir amado.


Foi o mar, que lhe falou das decisões difíceis, que por vezes tomamos. da dor que momentaneamente forte, com o decorrer dos tempos se desvanece. "Quanto mais tempo demoramos a decidir, mais dorido é o tempo de passagem".

Ele tinha razão, enterrara o machado de guerra, das emoções e decidira parar. Ali viera para ouvir o seu conselho amigo, esperando a sua ajuda, para se superar, e deixar que de novo a vida aconteça. A sua resposta foi dada e ele tem nova viagem marcada, com vista... para o Mar

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

SÓ UM SONHO

A polpa dos dedos percorre os teu lábios, afugentando os meus de desvendarem segredos.
A tua pele possui o cheiro das coisas doces indescritíveis, orientando os meus sentidos ao encontro do teu corpo.
Os meus olhos acariciam-te, ficando cegos pelo brilho do teu desejo.
O pensamento desfaz-se na ignorância, para além de ti.
Resto parado, vendo teu olhar me possuindo, acreditando-me inteiro contigo.
E em meus dedos humedecidos, sinto o calor dos lábios no teu ensejo.
Sei que partirás, como sempre, estragando-me o sonho, deixando boquiaberto de incerteza.
Vejo-te desvanecer nas nuvens de outras tempestades, ficando no limbo das meias verdades.
Embora tão próximo, nunca tão próximo que magoe.
E no silêncio da noite escura, os dedos deslizam nos lençóis e não te encontram.
No entanto a humidade permanece e o teu cheiro não se desvanece.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

CARNAVAL das CRIANÇAS

As crianças mascaram-se para o Carnaval, mas nestas resta só a curiosidade pelo fotografo,

domingo, 19 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

LEITURA DE UMA IMAGEM

 
Desassombradamente, olho-te nos olhos, sem resposta. Estes claramente abertos. Observo, teu rosto atento olhando o vazio em frente. Tua boca faz um trejeito pretendendo ser um semi-sorriso. Sentada, as pernas dobradas fazem uma perpendicular entre si, as mãos se cruzam à sua frente, aguentando a pose, como uma forma de guarda ao teu interior.

No silêncio harmonioso que compões, difícil é entender o por quê, dessa forma de mostrar. Dessa forma de dizer, “eu estou aqui, mas não estou". Dou-vos o invólucro, não a alma. Dou a resposta à vossa procura, mas não sou a vossa procura. Daquilo que eu sou, só vos resta a captura de um momento, em que fugazmente fui registo.


Depois...depois não existe depois, só o agora de cada momento que tu desse lado de “voyeur” que procuras almas perdidas na lonjura das madrugadas, e te deparas com outras, para ti, menos afortunadas.


Demoradamente penso, fico-te observando, tentando descobrir que parte de ti está amando, ou se estás brincando, com quem te olha chorando porque te procura não te encontrando.


Não sei o que resta depois do momento, em que deveras posando, preencheste um espaço de tempo, sem saberes, que te mostrando, alguém no escuro da noite te foi amando

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

VIDA DE DROGA ou DROGA DE VIDA


Sim, já era altura de saber como é. Eles correm em passos miúdos, de mão fechada, olhos fora das órbitas, rostos profundos, indescritíveis. Conforme chegam partem. Na mão que chega fechada, com a míngua das moedas, agora, do mesmo modo fechada, transporta o seu sol momentâneo. Dentro, daquele espaço pequeno, da sua mão fechada, leva a cura para os tremores e os suores frios, que ausência prolongada, provoca.
O caminho até ali, foi feito de pequenos furtos, caseiros inicialmente, agora já fora de portas, ao primeiro incauto que apareça, à mão de semear. Foi-se-lhe a vergonha, ou valores, morais, sociais, se alguma vez os tivera. Não tem família, tem os amigos do vício enquanto eles o ajudarem no prolongamento da agonia, porque se não…até esses desaparecem debaixo do fio da navalha. Já não são os seres humanos tal como os conhecemos, são uns híbridos, que vivem entre o cá e o lá, e é nesse lá que têm de viver, não por vontade própria, ou porque o queiram, mas porque o regresso já não tem horizonte próximo.
A mão continua fechada, e desesperadamente ele olha o chão procurando seringa, ou um pedaço de papel prateado, onde possa preparar o “medicamento” para as ansiedades. No primeiro vão de escada, ou lugar, mais ou menos escondido, serve, e quando não, encostado a uma qualquer porta, perante quem circula. A necessidade é quem mais ordena
Não se consegue apurar na maioria dos casos, como chegaram ao fim da linha. Sabe-se que de repente, eles se tornam agressivos agitados, sebosos no descuido, no vestir, no lavar e no comer, se é que comem, porque papo-seco, limão ou laranja são alimentos privilegiados. São os passos miúdos, os olhos com um brilho zombie, as olheiras profundas o cabelo desgrenhado, a roupa sebenta, o carapuço enfiado na cabeça, qual desportistas, onde parte do rosto se esconde, e o frio que se instala da ressaca, se atenua. Quem circula no espaço próximo da sua existência, já lhe conhece os tiques, os lugares que frequentam, e a pressa que levam nos passos para o caminho de nova toma.
Há quem diga que são razões de ordem psicológica, falta de afectos, no entanto se os afectos foram muitos, morre de excesso. Outros dizem que são os desgostos de amor, mas nunca foram tão amados.
Há quem diga que começou numa brincadeira, numa qualquer festa, num qualquer lugar. Outros dizem começar pelas leves para experimentar e se acaba nas pesadas e no vício.
Há quem diga ser luxo de ricos, mas isso, se no passado seria verdade, agora é mentira, porque são os pobres os que mais consomem.
Há quem diga que a falta de trabalho, o desemprego, a miséria vivida os arrasta para esses caminhos.
A verdade é que depois de começar, já nenhum deles quer saber ou se preocupa como começou. A realidade é crua, eles são uma arma que cria assassínios em causa própria e bandidos de causa alheia.
Ninguém fala dos pais distraídos passando ao lado do crescimento dos seus filhos, nem da benevolência excessiva dos adultos, ou outras questões que se prendem com o berço de valores das famílias que com as modernices, cada vez mais se vão perdendo.
Ninguém comenta, uma sociedade com mira no lucro, fazendo dos que trabalham escravos modernos, e tornam os pais ausentes sem tempo para a família, ou para si próprios.
Ninguém comenta as horas intermináveis de telenovelas de conteúdo duvidoso, os filmes agressivos, a passividade perante as injustiças. Ninguém acusa a manipulação do espaço visual em defesa de causa própria e com fins menos sérios. Até há quem defenda o “boom tecnológico” esquecendo que sem cultura, não existe evolução, mas sim conhecimento na base de colagens.
Não sabemos bem das razões, ou das motivações, mas é verdade que nem sempre é por falta de aviso. Sabemos todos, que é uma desgraça completa, aproveitada para se fazerem fortunas fáceis. Consta-se que cerca de 35% do dinheiro, que anda por aí a circular sem controlo é proveniente desse flagelo e que sem ele os governantes não conseguiriam governar.
Sabe-se também, que aqueles zombies, que alguns dizem humanos, andem por aí, tornando difícil a vida de quem trabalha, e estragando a paisagem, já de si deficitária, da nossa sociedade. E alguns recebendo subsídios, que não dão a idosos e reformados.

Ainda há gente defende a liberdade do uso, e que as farmácias funcionem como fornecedoras, ou seja, legalizando o absurdo.
A sociedade do caos organizado, é conveniente, para quem explora. Permite o medo, cria medidas mais repressivas e distraem-nos a todos nós de outros problemas graves. Esta é a sociedade, que dá perspectivas aos pobres de serem ricos, mas como diz o outro " De boas intenções está o mundo cheio"