quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

VIDA DE DROGA ou DROGA DE VIDA


Sim, já era altura de saber como é. Eles correm em passos miúdos, de mão fechada, olhos fora das órbitas, rostos profundos, indescritíveis. Conforme chegam partem. Na mão que chega fechada, com a míngua das moedas, agora, do mesmo modo fechada, transporta o seu sol momentâneo. Dentro, daquele espaço pequeno, da sua mão fechada, leva a cura para os tremores e os suores frios, que ausência prolongada, provoca.
O caminho até ali, foi feito de pequenos furtos, caseiros inicialmente, agora já fora de portas, ao primeiro incauto que apareça, à mão de semear. Foi-se-lhe a vergonha, ou valores, morais, sociais, se alguma vez os tivera. Não tem família, tem os amigos do vício enquanto eles o ajudarem no prolongamento da agonia, porque se não…até esses desaparecem debaixo do fio da navalha. Já não são os seres humanos tal como os conhecemos, são uns híbridos, que vivem entre o cá e o lá, e é nesse lá que têm de viver, não por vontade própria, ou porque o queiram, mas porque o regresso já não tem horizonte próximo.
A mão continua fechada, e desesperadamente ele olha o chão procurando seringa, ou um pedaço de papel prateado, onde possa preparar o “medicamento” para as ansiedades. No primeiro vão de escada, ou lugar, mais ou menos escondido, serve, e quando não, encostado a uma qualquer porta, perante quem circula. A necessidade é quem mais ordena
Não se consegue apurar na maioria dos casos, como chegaram ao fim da linha. Sabe-se que de repente, eles se tornam agressivos agitados, sebosos no descuido, no vestir, no lavar e no comer, se é que comem, porque papo-seco, limão ou laranja são alimentos privilegiados. São os passos miúdos, os olhos com um brilho zombie, as olheiras profundas o cabelo desgrenhado, a roupa sebenta, o carapuço enfiado na cabeça, qual desportistas, onde parte do rosto se esconde, e o frio que se instala da ressaca, se atenua. Quem circula no espaço próximo da sua existência, já lhe conhece os tiques, os lugares que frequentam, e a pressa que levam nos passos para o caminho de nova toma.
Há quem diga que são razões de ordem psicológica, falta de afectos, no entanto se os afectos foram muitos, morre de excesso. Outros dizem que são os desgostos de amor, mas nunca foram tão amados.
Há quem diga que começou numa brincadeira, numa qualquer festa, num qualquer lugar. Outros dizem começar pelas leves para experimentar e se acaba nas pesadas e no vício.
Há quem diga ser luxo de ricos, mas isso, se no passado seria verdade, agora é mentira, porque são os pobres os que mais consomem.
Há quem diga que a falta de trabalho, o desemprego, a miséria vivida os arrasta para esses caminhos.
A verdade é que depois de começar, já nenhum deles quer saber ou se preocupa como começou. A realidade é crua, eles são uma arma que cria assassínios em causa própria e bandidos de causa alheia.
Ninguém fala dos pais distraídos passando ao lado do crescimento dos seus filhos, nem da benevolência excessiva dos adultos, ou outras questões que se prendem com o berço de valores das famílias que com as modernices, cada vez mais se vão perdendo.
Ninguém comenta, uma sociedade com mira no lucro, fazendo dos que trabalham escravos modernos, e tornam os pais ausentes sem tempo para a família, ou para si próprios.
Ninguém comenta as horas intermináveis de telenovelas de conteúdo duvidoso, os filmes agressivos, a passividade perante as injustiças. Ninguém acusa a manipulação do espaço visual em defesa de causa própria e com fins menos sérios. Até há quem defenda o “boom tecnológico” esquecendo que sem cultura, não existe evolução, mas sim conhecimento na base de colagens.
Não sabemos bem das razões, ou das motivações, mas é verdade que nem sempre é por falta de aviso. Sabemos todos, que é uma desgraça completa, aproveitada para se fazerem fortunas fáceis. Consta-se que cerca de 35% do dinheiro, que anda por aí a circular sem controlo é proveniente desse flagelo e que sem ele os governantes não conseguiriam governar.
Sabe-se também, que aqueles zombies, que alguns dizem humanos, andem por aí, tornando difícil a vida de quem trabalha, e estragando a paisagem, já de si deficitária, da nossa sociedade. E alguns recebendo subsídios, que não dão a idosos e reformados.

Ainda há gente defende a liberdade do uso, e que as farmácias funcionem como fornecedoras, ou seja, legalizando o absurdo.
A sociedade do caos organizado, é conveniente, para quem explora. Permite o medo, cria medidas mais repressivas e distraem-nos a todos nós de outros problemas graves. Esta é a sociedade, que dá perspectivas aos pobres de serem ricos, mas como diz o outro " De boas intenções está o mundo cheio"

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