Caminhava pela tarde, com o sol baixando ao
seu leito. A cor dos campos, dum dos lados do alcatrão, tinha algo de
fantástico que preenchia o meu silêncio magoado. Na memória o seu rosto fechado, com os
olhos escondidos pelos óculos escuros, quando na paragem do autocarro se
despediu de mim. As coisas ainda mal começadas, já tinham desenhadas o seu fim.
Naquele caminhar, nos meus pensamentos tudo estava a preto e branco, mesmo
quando sabia das cores que se passeavam pelos meus olhos. As barras brancas,
que no alcatrão marcavam o lugar de passagem aos peões, iam surgindo de onde em
onde, como imagens num filme de dezasseis frames por segundo. Aquele repisar,
branco e preto, preto e branco, fez-me reparar que as faixas não era totalmente
brancas, e que elas em si, continham desenhos vários e relevos...afinal não era
tudo preto e branco, tinham nuances e relevos. Se me deixasse levar pela
imaginação, até veria que dentro daqueles meios tons, havia um horizonte, com
árvores e um pequeno bichano de olhos arregalados observando-me. Ganhei o dia,
ou melhor a tarde, sorri, e deixei que as cores do ambiente adentrassem em mim
pela porta dos olhos.
dc
P.S. Numa imagem, há sempre uma estória por trás que a sustenta.