segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Há pessoas e pessoas



Há pessoas que não abraçam porque têm medo de se darem;
Há pessoas que temem os sentimentos profundos, preferem o bolor da superficialidade;
Há pessoas que se revelam na distância e apagam-se na proximidade;
Há pessoas que exibem o que não são, para seduzir quem não repara nelas;
Há pessoas que navegam em círculo, por que decidir tem custos;
Há pessoas que fogem da solidão, prendendo-se na solidão da gaiola informática;
Há pessoas que existem no fugaz momento do “big brother” das suas vidas;
Há pessoas que se agarram aos bens materiais e se perdem dos valores humanos;
Há pessoas que confessam os pecados, antes que algum deles aconteça;
Há pessoas que vivem de likes, de coraçõezinhos, sorrisos estereotipados da vida que revelam;
Há pessoas que virtualmente a dor de não serem a carne gostada, vivida, amada;
Há pessoas que nos desiludem, têm defeitos, porque são humanas e nós não queríamos;
Há pessoas que escrevem sobre estas merdas todas, com a consciência do tempo perdido.


dc




sábado, 15 de dezembro de 2018

Estou vivo!




Esperando, na espera de todos os dias, que um corpo leve se lhe pouse e com alegria voe no espaço soltando gargalhadas sonoras.

Olho, a figura recortada contra o céu e o rio, lançando o desafio atrevido a quem passa, de ali se sentar e baloiçar, a usufruir da brisa e sentir o prazer, que à pele traz um arrepio.

Todos os sonhos regressam, todas as memórias saltam para o presente. Apetece correr para ser o primeiro a sentar-se e começar a viagem, naquele esticar e encolher de pernas, que quebram a inércia, enquanto as mãos firmes se assenhoram das correntes na segurança do voo.

Um dia, criança de rosto trigueiro, agora com a pele enrugada, o mesmo desejo da garotada, um voo pleno entre os gritos das gaivotas, sentindo leveza no corpo e uma vontade enorme de gritar: Estou vivo!

dc

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Engrenagem



Cada dia é um dente
Correndo o risco de partir
Nada dura para sempre
Não vale a pena carpir 

Se não cuidarmos de nós
Mesmo existindo em par
Um dia acabamos sós
Incapazes de recomeçar

Não importa muito sonhar
Se pararmos no tempo
A intempérie faz enferrujar
E impede o desenvolvimento

O amor só é completo
Com dois no mesmo querer
O contrário é um deserto
Num vazio que faz doer

Falso sentimento de liberdade
Esse fechar de portas ao coração
Definhamos no vazio e saudade
Das memórias em solidão

Acabamos presos nas engrenagens
Neste enrolar da roda da vida
Noite e dias de dolorosas viagens
Sem ter a missão cumprida


dc


 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Folhas como pássaros



Cada folha, um pequeno pássaro pousado aguardando seu voo, cada galho, um braço, a seiva o sangue que alimenta, e um tronco um corpo vivo agarrado à terra.
Fico-me pelo olhar, absorvendo a espectacularidade deste fenómeno da natureza. A imaginação é tão fértil como a terra que o suporta. As árvores são um amor à primeira vista, que seja qual for o momento que se me deparam encantam. Tem vezes, que só por timidez, não as abraço procurando vivê-las, como uma namorada que tanto se ama e deseja. Pena é, que nem sempre as escolham de forma adequada a cada lugar e não façam delas a presença protegida e obrigatória no respirar dos seres humanos, tal qual o parceiro da nossa vida.

dc